20 de out. de 2007

Coisas da Mostra...

- Ontem (sexta-feira 19), o filme As Crianças Perdidas de Buda, no Espaço Unibanco 3, teve um atraso de mais de 20 minutos, devido a problemas com as legendas eletrônicas. Entretanto, mesmo após o início da sessão, as legendas praticamente não funcionavam e só quem sabia inglês conseguiu acompanhar o filme, legendado previamente em inglês.

- A sessão posterior do Espaço Unibanco 3, Drum, também teve muitos problemas, como uma interrupção do filme após 10 minutos de exibição e o tempo da película registrado na tela por distração do projecionista.

Gael García Bernal e Claude Lelouch conversam com espectadores

Neste sábado, dia 20, a Faap será sede de bate-papos com dois grandes nomes do cinema: o diretor francês Claude Lelouch, que está sendo especialmente homenageado nessa Mostra, e o ator Gael García Bernal, que tem sua estréia como diretor entre os selecionados do festival.

Às 16:00, Lelouch estará presente para apresentar seu curta-metragem Rendez-Vous - um instigante plano-seqüência de nove minutos em que o diretor sai em alta velocidade com seu carro pelas ruas de Paris - e seu último longa Crimes de Autor.

Logo depois, às 19:30, será a vez do ator mexicano, que exibirá Déficit, primeiro filme em que assina a direção.

Depois de suas respectivas sessões, ambos estarão disponíveis para conversar com o público.

FAAP
Rua Alagoas, 903 - Higienópolis

Cashback

Jovem não é adulto

Cashback repete a velha crítica sobre a função do tempo no mundo de hoje, mas ainda resta graça em seus momentos despretensiosos

PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


Ben Willis é um estudante de arte no último da faculdade e acabou de terminar com sua namorada. Desde o fim do relacionamento ele não consegue pensar em outra coisa, e a preocupação é tanta que ele não consegue mais dormir. E esse quadro se mantém por dias e dias seguidos, até que ele percebe que, na verdade, sua vida foi aumentada em um terço – correspondente às 8 horas de sono.

Depois de ter entendido o que o término do namoro havia feito com sua vida, Ben tenta aproveitar esse tempo trocando suas horas de sono por leitura, pintura. Até que arranja um emprego no turno da madrugada num supermercado, onde conhece os demais personagens de Cashback, inclusive a atendente de caixa Sharon.

Apesar do aspecto adolescente que as piadinhas bobas passam no filme, o tema central é um pouco mais complexo. O diretor Sean Ellis se utiliza da insônia de Ben para discutir a influência do tempo na vida das pessoas. O tema central do filme é basicamente esse: como a vida moderna tornou todos escravos do tempo.

É quando deixa de lado a comédia adolescente para fazer critica social que Cashback deixa a desejar. Além de trazer um assunto desgastado, exaustivamente retratado no cinema, não consegue apresentar nem mesmo resquícios de originalidade em suas críticas à sociedade fast-food. Por diversas vezes são feitos pequenos comentários do tipo "use protetor solar", ou "pare, respire, preste atenção à pessoa do seu lado porque ela deve ser legal".

Porém, ainda é possível ignorar esses momentos de pretensão crítica do diretor e se divertir com a história que dá suporte ao filme. É um filme agradável, que não cansa em nenhum momento. As brincadeirinhas bestas dos amigos do supermercado e o humor tipicamente inglês deram um ar juvenil ao filme, e neutralizaram os conceitos batidos que o filme apresenta.



CASHBACK
(Cashback, Inglaterra)
Direção: Sean Ellis
Competição | 2006 | 102 min

20/10 | 16:50 – Cinemateca (sala BNDES)
23/10 | 15:10 – Frei Caneca Unibanco Arteplex 1
30/10 | 13:00 – Reserva Cultural 1

19 de out. de 2007

Império dos Sonhos

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


INLAND EMPIRE (em maiúsculas mesmo) é o primeiro longa-metragem de David Lynch filmado em formato digital, segundo ele uma experiência libertadora. De fato, o que se vê em INLAND EMPIRE é liberdade pura: de criação, de associação de imagens, de significados. Ao mesmo tempo em que David Lynch utiliza alusões a seu próprio léxico cinematográfico (frases que não fazem sentido inicialmente, alucinações intermináveis e até mesmo várias cenas de sua web-série Rabbits) ele não se perde em si mesmo, não se esgota – Lynch não está preocupado com fórmulas, nem mesmo com as que criou.

A história gira em torno de Nikki (Laura Dern), uma atriz que há muito tempo não tem um bom papel e que finalmente consegue ser chamada para o filme On High in Blue Tomorrows. Entretanto, Nikki começa a confundir sua vida com a de Sue, sua personagem, o que desencadeia o início do fluxo do inconsciente e o fim da narrativa linear de INLAND EMPIRE.

Não existe diferenciação visível entre sonho, memória, alucinação e realidade. Um sonho não é menos real que o nosso dia-a-dia, a memória é uma maneira de reconstruir o passado e compreender o presente e a alucinação solta os freios do inconsciente. Em suma, não existem barreiras entre o imaginário e a realidade. Tudo é real. Nenhuma dessas "categorias" do pensamento, das divisões entre o real e o construído são estanques, principalmente nos filmes de Lynch. Uma alucinação é real na medida em que faz parte não só da própria natureza não racional do ser humano como de uma sociedade saturada de imagens que são apenas simulacros da realidade.

O filme também é sobre o ato de fazer cinema – como se o filme e suas pulsões derivassem de uma força motriz caótica, na qual a realidade não organiza as imagens, dando origem às alucinações e sonhos que são a matéria prima do cinema, principalmente do de David Lynch. Fazer cinema é reunir fragmentos desse “inconsciente”, desses instintos sensoriais e, ao torná-los puramente imagéticos, transformar a película em uma força além da arte.


Quando Nikki agoniza em meio às imagens alucinantes e não sabe mais quem ela é, sua vida passa a ser uma alucinação contínua que, entretanto, torna-se real a partir da fusão entre Nikki e Sue. O método Stanislawski – o autor que incorpora o personagem, tão popular em Hollywood - chega ao extremo e mergulha no horror com a experiência de Nikki. Se o sonho, a alucinação e a memória são tão reais como qualquer outra coisa, como ordenar a realidade e torna-la inteligível?

"Um garotinho saiu de casa para brincar. Quando ele abriu a porta, ele viu o mundo. Mas quando passou pela porta criou-se um reflexo, e o mal surgiu. E o mal seguiu o garotinho". Com estas palavras, a vizinha de Nikki não só prevê muito do que acontecerá durante as filmagens de On High in Blue Tomorrows como suscita muitas questões que permeiam todo o drama de Nikki. O garotinho e seu reflexo. O homem e seu duplo. Esse duplo funcionando em dois níveis: a origem do mal é a origem do ser humano (ao se deparar com o mundo, o garotinho torna-se humano. E ao ver seu reflexo descobre o mal em si) e o duplo como princípio de operações que destroem a separação entre imaginário e real. Em suma, descobrir-se a si mesmo através do reconhecimento do duplo (que resulta de um exercício de alucinação).

Nikki descobre a essência do duplo a partir de sua fusão com Sue, quando começam suas alucinações e ela perde identidade: afinal, quem é ela? É a personagem ou o “eu” anterior ao filme? Quando, no final do filme, uma música emotiva toca e Nikki olha para a frente, finalmente seu olhar não é mais de medo diante de suas alucinações: é um semblante calmo, como se, finalmente, alucinação, sonho e realidade se reconciliassem. Tudo a partir do encontro com o outro (também seu duplo/espectador), a garota que chora assistindo Nikki pela TV e que sofre pela sua história sofrida (será a história de Nikki, de Sue, ou de ambas?). É como se, em um estágio final da experiência cinematográfica, a imagem (e, portanto, o cinema) finalmente se encontrasse com o espectador, e não existisse mais nenhuma distância entre eles. Uma simbiose total.

A liberdade total das imagens e da experiência cinematográfica que é INLAND EMPIRE, entretanto, traz um efeito inerente a quase todos os filmes de David Lynch, mas que aqui se acentua: o horror. É impossível ficar alheio às imagens torturantes e fortes, que causam uma sensação dolorosa, não voyerista, mas de co-sofrimento, de imersão na imagem. Não participar dessa agonia é estar totalmente alheio ao filme.

INLAND EMPIRE compartilha muitas características com o último longa metragem de David Lynch, Mulholland Dr. (Cidade dos Sonhos). Ambos começam com narrativas aparentemente lineares, até que há um ponto de conflito que desestrutura a história e tudo começa a se misturar e fragmentar. As fronteiras entre realidade e inconsciente se dissolvem, o que permite múltiplas sensações e interpretações. E é essa a maior força de INLAND EMPIRE, além da complexidade e liberdade de sua “narrativa”: as sensações.

Tentar entender o filme de acordo com os parâmetros tradicionais de enredo e narrativa é se perder totalmente, é procurar rotular e encaixar INLAND EMPIRE em uma categoria que não vai existir. Ir ao cinema para ver esse filme é, gostando o espectador ou não dos filmes de David Lynch, uma experiência ímpar, intrigante e reveladora. É quase como se a verdadeira função do cinema – a de ser apenas catarse e provocação – envolvesse o espectador e nunca mais o abandonasse.



IMPÉRIO DOS SONHOS
(INLAND EMPIRE, França/Polônia/EUA)
Direção: David Lynch
Perspectiva | 2006 | 197 min

19/10 | 22:50 – iG Cine
21/10 | 12:00 – Cine Bombril 1
22/10 | 20:10 – Unibanco Arteplex 1

Control

O rock star não se humilha

Control não submete Ian Curtis ao calvário enfrentado por outros artistas em recentes cinebiografias


LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Quando começa Control, Ian Curtis ainda não é o líder do Joy Division. Na pequena cidade inglesa de Macclesfield, Ian Curtis (Sam Riley) é um jovem que não consegue prestar atenção nas aulas de química, mas tem sensibilidade para escrever os poemas que farão com que Debbie (Samantha Morton), a namorada de seu melhor amigo, se apaixone por ele.

Enquanto é um garoto pacato e apaixonado no interior da Inglaterra, Curtis não traz nenhum desafio ao filme, nem ao espectador. É apenas quando ele aceita assumir os vocais de uma das principais bandas do pós-punk no fim dos anos 70 que Control diz a que veio. Vida de rock star, afastamento da família que constituiu com Debbie ainda muito jovem, envolvimento com drogas e groupies. Tudo isso vira rotina na vida de Ian Curtis, que apesar do êxito como músico, enfrenta um grande problema: a depressão. Mas como contar essa história, em que uma promessa musical tem sua vida comprometida, sem martirizar um ícone pop, como acontece com outros astros?

Ao contrário da maioria das cinebiografias lançadas recentemente, que definharam seus personagens até as últimas conseqüências, Control não submete seu retratado a um calvário, mesmo que o clima dramático seja progressivamente carregado ao longo do filme. Em seu primeiro longa-metragem, Anton Corbijn não o expõe ao ridículo de fazer com que tenhamos dó de todo o sofrimento que fez com que, aos 23 anos, Ian Curtis cometesse suicídio.

Missão cumprida. Control consegue conduzir o espectador em uma homenagem sincera a Ian Curtis. O jovem ator Sam Riley, que constrói um personagem cuja sobriedade é fascinante, transparece os conflitos de Curtis com sua epilepsia sem tentar cativar o público com sessões carregadas de choro e lamento.

Mas o filme desanda em outro conflito de Curtis: o amoroso. Se Control tem a proeza de escapar do clichê mais óbvio das cinebiografias, que é a desfiguração e a humilhação progressiva do personagem diante da platéia, infelizmente se aproxima dos melodramas televisivos ao situar Ian Curtis entre dois amores tão opostos: uma esposa suburbana, típica dona-de-casa, e uma groupie belga moderníssima que parece tratar seu amante como um melhor amigo.

A vida amorosa do líder do Joy Division é fundamental não só para compreender a vida e seu desfecho trágico, mas também as músicas que compôs. Mas acentuá-la da metade do filme em diante, ainda mais com a formação de um triângulo amoroso com base na fábula da mocinha da cidade e da mocinha do campo, fragiliza os verdadeiros êxitos do filme, é um tiro no pé para quem que tinha tudo para iniciar uma nova linha de biografias no cinema: a dos filmes sinceros e nem um pouco apelativos.


CONTROL
(Control, Inglaterra/EUA)
Direção: Anton Corbijn
Competição | 2007 | 121 min

19/10 | 18:40 – iG Cine
20/10 | 22:40 – Unibanco Arteplex 1
21/10 | 22:00 – Espaço Unibanco 3
24/10 | 20:40 – Cine TAM

[Leia também a crítica de Tainá Tonolli, d'O Fino da Mostra, no site de Cultura Geral da Faculdade Cásper Líbero >>]

Amigos. Corbijn e Curtis se conheceram de fato. Assim que se mudou da Holanda para a Inglaterra, o primeiro trabalho do então fotógrafo Anton Corbijn foi um ensaio do Joy Division. Quase trinta anos depois, sua estréia na direção de cinema trouxe novamente ao primeiro-plano o compositor do clássico Love Will Tear Us Apart.

Sympathy for the Devil

Jean-Luc Godard não assume a paternidade de Sympathy for the Devil, cuja montagem foi feita pelos produtores à sua revelia. Por isso, fez One + One, em que não teve vergonha de dizer que é o pai. Ambos são filmes-manifesto feitos em 1968, misturando imagens da gravação da canção dos Rolling Stones com esquetes de teor político, em que se discute o comunismo, o movimento negro, o maoísmo e a necessidade de por fim à intelectualidade.

MINICRÍTICAS

Godard faz um filme chato, em que é preciso muita disciplina para não utilizar a saída de emergência antes dos créditos finais. É quase um treino: quem chega até o fim é daqueles que não entrega nenhum colega nem sob a pior das torturas. Sympathy... é uma tortura ideológica: troca os diálogos pelo discurso político, abusa de didatismo e repetição. Para te convencer de que o comunismo-marxismo-maoísmo é o melhor remédio, Godard constrói a mesma idéia em quase dez esquetes “diferentes”, intercaladas às gravações dos Rolling Stones. Torça para não implicar com a música também...
(Luiz Felipe Fustaino)


A idéia de reunir em um filme vários conceitos políticos e estéticos, intercalados pelo música simbólica dos Rolling Stones, é excelente, e Godard sabia disso. A maneira como o diretor conduz o filme, com cortes súbitos que parecem indicar preciosismo e frases feitas que beiram o pedantismo e o clichê, provam que Godard tinha um alto conceito não só da idéia central do filme como de suas habilidades cinematográficas. Infelizmente, nada disso salva Sympathy for the Devil, que causa tédio até mesmo ao cinéfilo mais empenhado e soa falso ao atribuir uma importância suprema às idéias políticas de Godard. A montagem, ao tentar transformar planos totalmente díspares em uma unidade cinematográfica, consegue desvalorizar até mesmo o ritmo contagiante da música dos Rolling Stones. Criador de obras instigantes como Acossado, Je vous salue Marie e Alphaville, Godard prova que também sabe entediar.
(Stefanie Gaspar)


Mesmo não sendo uma montagem assinada e muito menos assumida por Jean-Luc Godard, Sympathy for the Devil é um filme para fãs... do diretor. Ele tenta ser interessante e quase chama a atenção do espectador com as cenas com cara de extra de DVD das gravações do clássico dos Rolling Stones. Porém, quando começa a surgir interesse por parte da audiência, há cortes desconexos para cenas com menos sentido ainda.

Falar que a música dos Stones salva o filme, mesmo para um fã incondicional da banda, é mais do que exagerar a capacidade de composição da dupla Jagger/Richards. É um filme que dá a impressão de ter sido feito apenas para catequizar quem o vê com seus discursos político-ideológicos e para treinar técnicas de edição e montagem. É um filme pra quem tem paciência de acompanhar sessões de gravação e de ouvir discursos de palanque.
(Pedro Canário)

Nem os Rolling Stones, nem Mick Jagger, nem um irreconhecível e jovem Keith Richards salvam Godard. Nem mesmo a mistura do rock com o batuque brasileiro (Jagger e Richards teriam vindo à Bahia no ano anterior) salva Sympathy for the Devil, uma tentativa de um filme revolucionário para explicar o ano de 1968 na ótica do cineasta francês. O filme acaba por abusar das alegorias e metáforas extenuantes e faz da canção dos Stones um pano de fundo mal colocado. O discurso político apresentado é extremamente confuso e desconexo, e tortura o espectador entre as tomadas de estúdio da banda inglesa.
(Pedro Belo)


ROLLING STONES, SYMPATHY FOR THE DEVIL
(Sympathy for the Devil, Inglaterra)
Direção: Jean-Luc Godard
Perspectiva | 1968 | 100 min

19/10 | 21:00 - iG Cine
20/10 | 21:20 - Reserva Cultural 1
28/10 | 13:30 - Bombril 1


ONE + ONE
(One + One, Inglaterra)
Direção: Jean-Luc Godard
Perspectiva | 1968 | 96 min

26/10 | 23:00 - iG Cine
31/10 | 22:00 - Unibanco Arteplex 3
01/11 | 14:00 - iG Cine

Crimes de Autor

Na medida

Em Crimes de Autor, Claude Lelouch prova ser possível fazer um ótimo suspense sem violência ou tiroteios. Basta ter sutileza.


PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


Crimes de Autor, o novo filme do francês Claude Lelouch, é um suspense que tinha tudo para cair no senso comum: uma série de histórias paralelas que, em algum momento, se encontram e guardam entre si pequenos mistérios em comum que parecem muito óbvios para serem motivos de preocupação.

Com um clima meio Agatha Christie, meio film noir dos anos 40, Crimes de Autor não apresenta uma única história central que se desenvolva como principal. Uma mulher que acaba de ser abandonada pelo noivo num posto de gasolina, um homem que parece estar viajando sem destino pela estrada, uma famosa escritora de romances.

Abandonada pelo namorado, Huguette se apresenta como uma mulher frágil e temperamental a Pierre, homem que acabou de conhecer em um posto de gasolina. Sem o carro (e sem o futuro marido), conta com a ajuda do desconhecido em sua viagem sem rumo. Depois que ele se apresenta como ghost-writer de Judith Ralitzer, a famosa escritora, e logo desmente esse personagem, Huguette o chama para fingir para seus pais, que moram no interior, que ele é seu futuro marido. E como sub-histórias que permeiam esses pequenos acontecimentos, há um serial killer pedófilo à solta e Judith precisa escrever seu novo best-seller, quando se vê acusada de um assassinato.

Lelouch é imprevisível ao fazer a história do filme correr paralelamente com o que parece ser a história do novo romance de Judith. Mas também é bastante eficaz em não deixar transparecer o que é realidade e o que é ficção, deixando o espectador achando que está descobrindo cada vez mais a trama do filme, embora na verdade não haja trama nenhuma a ser descoberta. A impressão final é a de que todos estão escrevendo o roteiro do filme e filmando-o junto com o diretor.

Neste thriller policial praticamente sem a presença da polícia, o que prevalece é a manipulação das histórias para que o filme não se torne previsível, se utilizando de uma única e muito eficiente arma: a manipulação dos personagens e tramas, deixando o filme quase cruel, onde cada vez que se pensa estar descobrindo alguma coisa, descobre-se também que estava enganado desde o início.

CRIMES DE AUTOR
(Roman de Gare, França)
Direção: Claude Lelouch
Retrospectiva Claude Lelouch 2007 103 min

19/10 20:50 – Unibanco Arteplex 1
20/10 16:00 – Faap
29/10 19:20 – Cinemateca – Sala Petrobrás

Ghost-director. Depois de ver seus filmes sendo recebidos sem entusiasmo pelos críticos franceses, Lelouch assinou “Crimes de Autor” como Hervè Picard. O pseudônimo só deixou de ser usado depois que o filme foi selecionado para o último Festival de Cannes. Em “Crimes de Autor”, o ghost-writer reivindica a autoria do próximo livro de Judith Ralitzer por considerar que está escrevendo sua obra-prima.

A Arte das Lágrimas

O riso fica engasgado

Indicação dinamarquesa ao Oscar 2008, A Arte das Lágrimas é original, mas erra feio ao subestimar a inteligência do espectador

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Leiteiro em um vilarejo do interior dinamarquês, tudo o que o pai de Allan deseja é estar no centro das atenções. Quando a família se prepara para dormir, ele desce até a sala, inicia um choro fingido e ameaça cometer suicídio. A filha pré-adolescente, Sanne, vai ao encontro do pai, com quem se deita, fazendo com que ele se tranqüilize e durma em paz. A conivência da mãe acaba por conter as revoltas do filho mais velho, Asger, com essa relação incestuosa.

Com apenas 11 anos de idade, Allan alia maturidade – ao perceber a necessidade do pai em chamar a atenção para si – e inexperiência – pois não compreende exatamente o que a irmã faz para tranqüilizar o pai. Durante o velório do filho de um leiteiro rival, o pai faz um discurso que leva todos ao choro, e será Allan quem descobrirá no pai uma nova (e original) maneira de fazê-lo se sentir bem: havendo mais mortes, também aconteceriam mais velórios.

Peter Schønau Fog tem em mãos uma trama em que a ironia e o humor negro se constroem de forma espontânea, mas o diretor vive o mesmo conflito do garoto Allan: uma luta entre maturidade e inexperiência. Por um lado, tem uma idéia genial, um filme que prima pela originalidade. Por outro, deixa transparecer que A Arte das Lágrimas é seu primeiro filme.

Para realçar os traços da personalidade dos dois personagens principais (Allan e seu pai), apela para a caricatura. Quando acerta o tom do sarcasmo de algumas situações inusitadas que acontecem ao longo da história, não sabe o tempo certo de encerrá-las, tornando-se repetitivo e, pior, um estraga-prazeres.

Não existe humor negro quando quem se arrisca a criá-lo tenta evitar ao máximo os subentendidos. Com o intuito de esclarecer todas as suas piadas, a direção de A Arte das Lágrimas conduz a platéia de forma constrangedora.

A ARTE DAS LÁGRIMAS
(Kunsten at Graede I Kor, Dinamarca)
Direção: Peter Schønau Fog
Competição | 2006 | 105 min

19/10 | 17:20 – Unibanco Arteplex 1
20/10 | 16:30 – HSBC Belas Artes 2
22/10 | 20:40 – Memorial da América Latina
29/10 | 13:00 – Reserva Cultural 1

A Ilha

Neve, neve, água, e mais um pouco de neve

PEDRO BELO
O FINO DA MOSTRA


A Ilha conta a história do misterioso e controvertido padre Anatoli, habitante de um monastério ortodoxo no norte da antiga União Soviética. Embora conhecido por seus "milagres", curas, exorcismos e previsões, o homem santo se considera um verdadeiro pecador, e dedica sua vida ao arrependimento e ao remorso por um grande pecado cometido na juventude.

Anatoli é um personagem interessante. Sua história começa na Segunda Guerra Mundial, na marinha soviética. Durante um confronto com soldados nazistas, o então jovem marinheiro entrega um companheiro em troca da própria vida, e, embora hesitante, o mata para poder continuar vivo. Depois de ter o barco destruído pelos alemães, Anatoli é recolhido semimorto pelos padres do monastério ortodoxo onde a história se passa.

Passados trinta anos, o velho padre em nada se parece com o marujo covarde. Passa o filme inteiro a fazer as duas únicas coisas que sabe: rezar e levantar carvão para alimentar a fornalha de sua humilde morada. Entretanto, encuca os demais padres do monastério com suas brincadeiras e piadas estranhas, e suas lições de fé, humildade e sabedoria.

O enredo daria uma história bacana, mas o cineasta russo Pavel Lounguine conduz a obra de maneira muito monótona. Não é preciso ser nenhum especialista para imaginar que o norte da Rússia é gelado, cinzento e calado. Mesmo assim, o retrato da paisagem estática (neve, água, cabanas, alguns barquinhos) é uma constante, acompanhada de uma trilha sonora inebriante, que faz dormir o mais grave dos insones. A preferência do diretor pelas cenas paradas e pela relativa ausência de diálogos objetivos, talvez seja um clichê. Ao mesmo tempo, não há outra maneira de retratar uma história religiosa que se passa num mosteiro nos confins da antiga Rússia socialista.

Para a surpresa do espectador, o filme tem um desfecho surpreendente, na medida do possível. Talvez a falta de objetividade faça esperar um final tão pouco empolgante quanto o resto do filme. É verdade, os conflitos de Anatoli são resolvidos e sua agonia pecadora é aliviada. A agonia do espectador na espera de uma conclusão antecipada, porém, persiste até o último dos 112 minutos da obra.

A ILHA
(Ostrov, Rússia)
Direção: Pavel Lounguine
Perspectiva | 2006 | 112 min

19/10 | 15:10 – Reserva Cultural 1
20/10 | 20:50 – iG Cine
21/10 | 15:40 – Cinemateca – sala Petrobrás

18 de out. de 2007

O Passado

O passado bate à porta

Hector Babenco deixa de lado as questões sociais e parte para o campo da subjetividade

PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


O Passado, de Hector Babenco, conta a história de Rimini (Gael García Bernal), um jovem tradutor que termina seu casamento de 12 anos com Sofia (Analía Couceyro), namorada dos tempos de escola. A partir daí, ele tenta recomeçar a vida por diversas vezes, mas sua ex-mulher parece se recusar a aceitar o fim de um relacionamento que tinha tudo para ser eterno.

A presença constante de Sofia causa uma série de tragédias na vida de Rimini, mas é quando ele conhece a modelo Vera, com quem começa a ter um caso, que a história ganha o tom que será mantido até o fim. É o momento em que ele acredita finalmente ter se desvencilhado de Sofia, em que assume o uso de cocaína para trabalhar e em que seus problemas de memória começam a se manifestar.

Esse é o aspecto que mais chama a atenção no filme de Babenco, baseado no livro homônimo do argentino Alan Pauls. O filme não está centrado nos relacionamentos de Rimini, ou na fragilidade deles, como pode parecer, mas sim na forma como o passado influencia diretamente o presente, e de inúmeras formas. O maior trunfo do filme é mostrar os efeitos do passado num personagem que tem problemas de memória.

Mostrar como experiências antigas voltam à tona a todo momento seria uma solução fácil, previsível. O Passado prefere abordar os relacionamentos e a passagem do tempo de forma bastante peculiar e, aproveitando-se da escuridão que permeia todo o filme, Babenco mostra como o passado bate à porta de todos. Até mesmo de pessoas como Rimini, que parecem imunes à memória.

É impossível fugir do passado. Assim que o tempo permite, ele volta, como um bloco de memória que aparece de maneira completamente independente da vontade. Ou, como resume a frase final do filme Está tudo iluminado de Liev Schreiber, “Tudo está iluminado com a luz do passado”. No caso de O Passado, tudo está um tanto quanto obscuro.


O PASSADO
(El Pasado, Brasil/Argentina)
Direção: Hector Babenco
Filme de Abertura | 2007 | 114 min

18/10 | 21:00 (para convidados) – Auditório Ibirapuera
24/10 | 22:10 – Cinesesc
26/10 | 18:10 – Cine Bombril 1
28/10 | 19:00 – Cinemark Eldorado

17 de out. de 2007

Atenção: Liberados os ingressos na Central da Mostra

A Central da Mostra, no Conjunto Nacional, liberou a retirada dos ingressos para quem já adquiriu pacotes. Hoje, quarta-feira, é possível retirar os ingressos de sexta, sábado e domingo. Na quinta, estarão disponíveis também os ingressos para a segunda-feira.

16 de out. de 2007

Pacotes de 40 ingressos acabam hoje

JULIO LAMAS
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA

Os pacotes de 40 ingressos devem ser os próximos a se esgotar. Espera-se que acabem ainda hoje, terça-feira.

Depois da disputa por pacotes de 20 ingressos, que acabaram ainda no sábado, e dos pacotes de 40, o especial também é um dos mais requisitados. Ele dá direito a uma credencial restrita a sessões de segunda à sexta e que têm início até às 17:55. De acordo com a organização da Mostra, espera-se que os últimos especiais sejam vendidos nessa quarta-feira à tarde.

Os pacotes integrais, mais caros e que permitem acesso a todas as sessões, ainda sobram para os interessados.


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Relembrando... Apenas os titulares da assinatura da Folha de S. Paulo terão direito a desconto de 15% nos pacotes integral e especial. Caso um titular compre o pacote, um acompanhante também poderá comprar seu pacote com o mesmo desconto.

Paciência. Uma das reclamações mais constantes se refere à demora para efetuar a compra dos pacotes por meio de cartões de débito.

Entenda as seções

Para organizar os quase 500 filmes que serão exibidos, a Mostra é organizada em seções (mostras secundárias). Este ano, a divisão é entre Perspectiva, Panorama Brasil, Retrospectiva Jean-Paul Civeyrac, Seleção Claude Lelouch, Seleção FESPACO e Sessões Especiais.

Perspectiva. Seleção de filmes internacionais que pretende mostrar o que de mais interessante foi feito nos dois últimos anos. É a maior seção, com 256 filmes. Destes, 106 filmes competem pelo voto do público - a chamada Competição de Novos Diretores. A competição é só entre filmes de diretores que estejam apresentando o primeiro ou segundo filme. Após a exibição, quem assistiu pode votar e, ao final da Mostra, o eleito recebe o Prêmio do Público. Perspectiva também apresenta curtas e médias metragens.

Panorama Brasil. Dedicada exclusivamente às produções nacionais. Exibe longas, médias e curtas-metragens e grande parte é do gênero documentário. Neste ano, serão exibidos filmes de diretores experientes, como Toni Venturi, Helvécio Ratton, e Eduardo Coutinho. Para quem não é tão experiente assim, há a Competição de Novos Diretores.

Retrospectiva Jean-Paul Civeyrac. O cineasta francês nunca teve nenhuma de sua obras exibidas no Brasil, mas já participou da competição no Festival de Cannes e foi premiado no Festival de Belfort. Serão exibidos 6 longas e 2 curtas.

Seleção Claude Lelouch. Depois de ter assinado a direção de 50 filmes, Lelouch, também francês, ganhou espaço na Mostra, com 8 longas. Destaque para Um Homem, Uma Mulher, que ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro e Palma de Ouro. O diretor também aproveita para lançar seu novo filme, Crimes de Autor, que participou do último Festival de Cannes.

Retrospectiva Jia Zhang-Ke. O chinês, um dos grandes críticos da globalização, terá todos os seus filmes exbidos na Mostra. São 7 ao total, incluindo O Mundo, vencedor do Prêmio da Crítica da Mostra em sua 29ª edição.

Seleção FESPACO. A África ganhou seção especial, com 17 filmes vencedores do FESPACO - Festival Pan-Africano de Cinema e Televisão de Uagadugu. Será possível ver filmes da Mauritânia, Marrocos, Mali e de outros países cuja cinematografia pouco aparece por aqui.

Sessões Especiais.
- O Passado, que será exibido na cerimônia de abertura (só para convidados);
- Brand Upon the Brain, com narração ao vivo de Marilia Gabriela e performances no palco;
- Tabu, acompanhado pelo pianista Paulo Braga;
- A Idade da Pedra, último filme de Glauber Rocha;
- Lost, Lost, Lost, em cópia resutaurada, de Jonas Mekas;
- O Filme de Nick, de Nicholas Ray e Win Wenders;
- Garoto Cósmico, animação nacional de Alê Abreu;
- Fuga Sem Destino, de Afonso Brazza.

[Para ver a programação completa, clique aqui >>]

Muita expectativa, poucas sessões

Grande parte dos filmes da 31ª Mostra será exibida três ou quatro vezes. Mas alguns dos mais esperados pelos espectadores paulistanos serão exibidos uma única vez.

Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men), de Joel e Ethan Coen / EUA
01/11 | 21:00 - Memorial da América Latina
Previsão de estréia: 15/02/2008

A Maldição da Flor Dourada, de Zhang Yimou / China
30/10 | 19:00 - Cinemark Shopping Eldorado
Em cartaz no Rio de Janeiro. Inédito em São Paulo.

Em Busca da Vida (Still Life), de Jia Zhang-Ke / China/Hong Kong
31/10 | 13:30 - Unibanco Arteplex 2
01/11 | 19:00 - Cinemark Shopping Eldorado
Já foi exibido em circuito comercial, mas agora com a retrospectiva do diretor Jia Zhang-Ke as duas sessões de Still Life devem lotar.

15 de out. de 2007

Mostra de Elite | 3 filmes em DVD pirata

Pelo menos três filmes que serão exibidos na Mostra já podem ser encontrados no mercado pirata. O Fino da Mostra encontrou os filmes abaixo em mais de uma das bancas do Stand Center, que fica na Avenida Paulista, a uma quadra do Masp. As cópias testadas são em DVD, qualidade alta e legendas em português.

[na foto acima, a atriz Sienna Miller em cena do já pirateado Entrevista.]


O Preço da Coragem (A Mighty Heart), de Michael Winterbottom. Angelina Jolie interpreta a esposa do jornalista Daniel Pearl, chefe da sucursal do The Wall Street Journal no Sudeste Asiático. Grávida de seis meses, ela não recebe ligações do marido, que saiu para uma entrevista envolvendo um homem-bomba.


Entrevista (Interview), de Steve Buscemi. Pierre Beders é um jornalista político incumbido de entrevistar uma bela atriz, algo que nada tem a ver com sua especialidade. O filme é um retrato do estranhamento entre os dois mundos e a relação entre personagens que parecem tão diferentes. “Entrevista” é um remake do filme homônimo do diretor holandês Theo Van Gogh, assassinado por um extremista islâmico – inicialmente, o remake seria dirigido pelo próprio Van Gogh.
[Leia a crítica do site Contracampo >>]


SOS Saúde (Sicko), de Michael Moore. Segundo Amir Labaki, mister em documentários, “o mais famoso dos documentaristas descansa a artilharia contra Bush para apresentar uma bem-humorada radiografia do desastroso sistema de saúde dos EUA. Perdoe-se o ingênuo escorregão do episódio cubano, na mais bem articulada das obras de Moore”.
[Veja dicas de documentários que estarão na 31ª Mostra >>]



STAND CENTER
Av. Paulista, 1098
2ª a Sábado: das 10h às 20h
Domingos e feriados: das 10h às 19h

14 de out. de 2007

Domingo tranqüilo

Quem comprou o pacote de 20 ingressos, comprou. Quem pretende comprar o de 40 ingressos, tem que correr – restam menos de 50 pacotes. Mas quem ainda não teve coragem de pagar os R$ 360 do pacote integral não precisa ter tanta pressa e também não enfrentará o caos do sábado, primeiro dia de vendas na Central da Mostra. Já nesse domingo o movimento foi bem menor.

Desconto Folha: atenção!
A principal reclamação na Central está relacionada ao desconto para assinantes da Folha de S. Paulo. Conforme adiantamos em O Fino da Mostra, apenas o titular da assinatura tem direito ao desconto de 15% no integral ou no especial (para sessões de dia de semana até as 17h55). Caso ele adquira algum pacote, um acompanhante também terá direito aos 15% de desconto.

Como ainda há uma quantidade razoável de pacotes com direito ao desconto Folha, uma solução é entrar em contato com a Central do Assinante da Folha e alterar o nome do titular da assinatura. O desconto é obtido com a impressão de um cupom do ClubeFolha gerado pela internet, em que constará o logo da Mostra e o nome do assinante.

[Informações gerais: o que saber para não ser surpreendido quando chegar no guichê >>]