22 de out. de 2007

Déficit

Gael no prejuízo

Bom ator, mas péssimo diretor. Feitas as contas, Gael García Bernal justifica o nome de seu primeiro filme

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Sempre que está em boas mãos, Gael não decepciona. Prova disso é que, embora não tenha uma carreira com tantos filmes assim, todos conhecem Gael, "o cara da Mostra" desse ano. Mas depois de trabalhar com alguns nomes importantes do cenário latino – Pedro Almodóvar (Má Educação), Alejandro González Iñarritu (Amores Perros e Babel), Alfonso Cuarón (E Sua Mãe Também...) e Walter Salles (Diários de Motocicleta) – Gael García Bernal resolveu se aventurar por trás das câmeras. Um fiasco.

A culpa não é da trama, idealizada por ele e outros colegas mexicanos – na estréia de Déficit aqui na Mostra, Gael disse que a idéia do filme surgiu de um “chiste”, uma piada.

Aproveitando-se da ausência dos pais, que estão em outro país devido a acusações de corrupção, Cristóbal (Gael García Bernal) e sua irmã Elisa (Camila Sodi) convidam seus amigos para uma festa na mansão de veraneio da família. Cristobal se encanta por uma jovem argentina, Dolores (Luz Cipriota), e sempre que sua namorada, Mafer (Ana Serradilla), o chama ao celular pedindo ajuda para encontrar o local da festa, ele passa as coordenadas erradas para evitar que ela chegue a tempo.

Além desse micro-conflito amoroso de Cristóbal, vários outros ilustram reflexões sobre a juventude contemporânea: o protagonista não consegue ser aprovado para um MBA em Harvard, não se conforma com o problema na descarga do banheiro, incomoda-se com a proximidade entre Dolores e Adán, o filho do jardineiro da casa.

Todos esses "transtornos pequeno-burgueses" de Cristóbal serão utilizados de maneira crítica em Déficit, que tenta, sempre que pode, deixar clara qual é a luta de classes dos novos tempos. O filme tem dois núcleos: os convidados da festa e os empregados da mansão. Enredo típico de filme politicamente corretíssimo, mas que acerta ao evitar a separação entre heróis e vilões.

Porém, se a intenção do filme é causar algum incômodo – reação claramente obtida no polêmico Tropa de Elite –, o objetivo vai por água abaixo. E o motivo é simples: o filme não tem diretor. Assim como o personagem de Gael tenta desorientar a namorada, que nunca consegue encontrar a mansão, tanto as atuações quanto o próprio roteiro sentem falta de alguém para guiá-los.

Déficit não é um filme cansativo, nem monótono, mas quando acaba, fica a sensação de que está faltando alguma coisa. Essa coisa tem nome: diretor.

DÉFICIT
(Déficit, México)
Direção: Gael García Bernal
Competição | 2007 | 79 min

19/10 | 21:00 Cine Bombril 1
20/10 | 19:30 FAAP
22/10 | 15:10 Cinesesc
26/10 | 15:10 Cinemateca – sala BNDES


Mais Gael. Além de O Passado e Déficit, dois filmes comentados em O Fino da Mostra, Gael García Bernal também protagonizou o filme Sonhando Acordado, de Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças), exibido no primeiro fim-de-semana da Mostra – talvez passe novamente na repescagem.

Além de ator e diretor, Gael aproveita sua superexposição na Mostra para trazer também seu lado produtor. Ele produziu Cochochi, a história de dois meninos indígenas do noroeste do México que se perdem ao comprar remédios a um parente – o filme é falado na língua da tribo local.

COCHOCHI. Direção: Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán
25/10 | 18:50 – Unibanco Arteplex 1
28/10 | 16:30 – HSBC Belas Artes 2

2 comentários:

Anônimo disse...

falou aí, diretor!

. disse...

o filme é ruim mesmo, nem precisei esperar o fim para sair no meio. acho esse cara supervalorizado demais -todo mundo sabe que ele só fez filme do almodovar porque deu umas comidas nele antes. no resto, só fez filmes mediocres com diretores que topam tudo para dar certo em holywood (exceto o cuaron). uma lástima o ibope que tão dando pra esse cara numa mostra repleta de excelentes filmes latino-americanos.