1 de nov. de 2007

Redacted

Palmas e vaias para Brian de Palma

Quase diferente e com argumentos mais do que desgastados, Redacted é um filme-panfleto

PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


Em um checkpoint (ponto estratégico onde os militares fazem um pedágio para evitar futuros problemas) do exército americano em Samarra, Iraque, o jovem recruta Angel Salazar resolve fazer um diário audiovisual da rotina dos soldados. Sua intenção, a princípio, era fazer um documentário e usa-lo para tentar entrar numa faculdade de cinema depois que fosse dispensado de suas atividades militares.

Porém, a tropa de Sally (com ele é chamado por seus companheiros) resolve invadir a casa de uma família iraquiana para fazer sexo com a menina de 15 anos que mora ali, e acaba matando todos os moradores da casa. Logo o soldado se vê numa situação delicada: sua câmera estava lá para observar tudo, e poderia fazer com que aquela situação entrasse para a história como uma espécie de Abu Ghraib 2.

MUITAS PALMAS PARA BRIAN
Com Redacted, Brian de Palma consegue fazer quase dois filmes em um. O primeiro filme aparece como se fosse uma reportagem de um canal de TV francês sobre a base de Samarra, onde a câmera aparece apenas como mera observadora, com a função mostrar os principais acontecimentos do lugar. Este é o espaço que o diretor usa para fazer seus questionamentos sobre a guerra e sobre a situação ali apresentada; o segundo filme é justamente o vídeo do recruta Sally, que dá uma cara de documentário a Redacted, transformando a câmera em não mais uma simples observadora, mas a coloca como protagonista da maioria das situações (muitas delas não aconteceriam se não fosse por ela).

O mérito do filme está exatamente na inovação de incorporar linguagens que não são comuns a filmes de ficção e ao misturar diferentes formas de filmar. Brian de Palma justifica o Leão de Prata de direção no Festival de Veneza e mostra que diretores já consagrados ainda têm espaço para experimentar e inovar.

POUCAS PALMAS PARA BRIAN
Mesmo tendo feito dois filmes dentro de um só, Brian de Palma não consegue dividir de forma proporcional as duas "categorias". Se com a reportagem ele faz questionamentos, com o documentário de Sally ele faz discurso, atribuindo ao filme um caráter ideológico quase panfletário, apenas para divulgar a posição do diretor sobre a invasão do Iraque.

VAIAS PARA DE PALMA
Usar o filme como instrumento de divulgação de um determinado ponto de vista (mesmo que o do diretor) não é um grande problema e não chega a comprometer a película. O problema está na argumentação: de Palma se apóia em idéias que já estão muito desgastadas, e que já foram pauta de qualquer pseudo-debate de jornal.

Ao apresentar argumentos batidos, o cineasta veterano se vê tendo que usar recursos amadores, como ironizar os argumentos daqueles que discordam dele, ou fazer pouco caso da justificativa do governo americano e de alguns soldados para estarem na guerra.
Ou até mesmo chamar Sally, o homem da câmera, de abutre que está na situação, mas não faz nada para mudá-la, já que ele está apenas em busca de podridão para mostrar - argumento notadamente desgastado.

... E ENTRE VAIAS E PALMAS
Relativizando os poréns, Redacted é um filme diferente por apresentar esse formato de englobar a linguagem jornalística e de documentário num filme ficcional, e, como era de se esperar, é um filme muito bem feito. Mas, a partir do momento em que se propõe a ser trampolim para um discurso político, ou um manifesto para chamar atenção das massas, o diretor escorrega e se apóia em argumentos e técnicas de retórica cinematográficas quase adolescentes.


REDACTED
(Redacted, EUA)
Direção: Brian de Palma
Perspectiva 2007 90 min

29/10 21:20 – Cine TAM
30/10 18:10 – Cinemateca (sala BNDES)
31/10 13:30 – Cinesesc

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