1 de nov. de 2007

Redacted

Palmas e vaias para Brian de Palma

Quase diferente e com argumentos mais do que desgastados, Redacted é um filme-panfleto

PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


Em um checkpoint (ponto estratégico onde os militares fazem um pedágio para evitar futuros problemas) do exército americano em Samarra, Iraque, o jovem recruta Angel Salazar resolve fazer um diário audiovisual da rotina dos soldados. Sua intenção, a princípio, era fazer um documentário e usa-lo para tentar entrar numa faculdade de cinema depois que fosse dispensado de suas atividades militares.

Porém, a tropa de Sally (com ele é chamado por seus companheiros) resolve invadir a casa de uma família iraquiana para fazer sexo com a menina de 15 anos que mora ali, e acaba matando todos os moradores da casa. Logo o soldado se vê numa situação delicada: sua câmera estava lá para observar tudo, e poderia fazer com que aquela situação entrasse para a história como uma espécie de Abu Ghraib 2.

MUITAS PALMAS PARA BRIAN
Com Redacted, Brian de Palma consegue fazer quase dois filmes em um. O primeiro filme aparece como se fosse uma reportagem de um canal de TV francês sobre a base de Samarra, onde a câmera aparece apenas como mera observadora, com a função mostrar os principais acontecimentos do lugar. Este é o espaço que o diretor usa para fazer seus questionamentos sobre a guerra e sobre a situação ali apresentada; o segundo filme é justamente o vídeo do recruta Sally, que dá uma cara de documentário a Redacted, transformando a câmera em não mais uma simples observadora, mas a coloca como protagonista da maioria das situações (muitas delas não aconteceriam se não fosse por ela).

O mérito do filme está exatamente na inovação de incorporar linguagens que não são comuns a filmes de ficção e ao misturar diferentes formas de filmar. Brian de Palma justifica o Leão de Prata de direção no Festival de Veneza e mostra que diretores já consagrados ainda têm espaço para experimentar e inovar.

POUCAS PALMAS PARA BRIAN
Mesmo tendo feito dois filmes dentro de um só, Brian de Palma não consegue dividir de forma proporcional as duas "categorias". Se com a reportagem ele faz questionamentos, com o documentário de Sally ele faz discurso, atribuindo ao filme um caráter ideológico quase panfletário, apenas para divulgar a posição do diretor sobre a invasão do Iraque.

VAIAS PARA DE PALMA
Usar o filme como instrumento de divulgação de um determinado ponto de vista (mesmo que o do diretor) não é um grande problema e não chega a comprometer a película. O problema está na argumentação: de Palma se apóia em idéias que já estão muito desgastadas, e que já foram pauta de qualquer pseudo-debate de jornal.

Ao apresentar argumentos batidos, o cineasta veterano se vê tendo que usar recursos amadores, como ironizar os argumentos daqueles que discordam dele, ou fazer pouco caso da justificativa do governo americano e de alguns soldados para estarem na guerra.
Ou até mesmo chamar Sally, o homem da câmera, de abutre que está na situação, mas não faz nada para mudá-la, já que ele está apenas em busca de podridão para mostrar - argumento notadamente desgastado.

... E ENTRE VAIAS E PALMAS
Relativizando os poréns, Redacted é um filme diferente por apresentar esse formato de englobar a linguagem jornalística e de documentário num filme ficcional, e, como era de se esperar, é um filme muito bem feito. Mas, a partir do momento em que se propõe a ser trampolim para um discurso político, ou um manifesto para chamar atenção das massas, o diretor escorrega e se apóia em argumentos e técnicas de retórica cinematográficas quase adolescentes.


REDACTED
(Redacted, EUA)
Direção: Brian de Palma
Perspectiva 2007 90 min

29/10 21:20 – Cine TAM
30/10 18:10 – Cinemateca (sala BNDES)
31/10 13:30 – Cinesesc

Estômago

O filme é do ator

João Miguel é um tremendo ator. Depois de chamar a atenção em Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) e em O Céu de Suely (2006), ele ainda precisava de um filme para brilhar sozinho: o filme se chama Estômago. Assim como nos filmes em que foi revelado, João Miguel volta a interpretar um nordestino – também é um sertanejo em Mutum, outro destaque da Mostra.

Estômago se divide em dois momentos, intercalados ao longo de todo o filme: no primeiro deles, o ator interpreta Raimundo Nonato, um migrante nordestino que tenta a vida em São Paulo; no segundo, ele é Nonato Canivete, agora tentando a vida na cadeia. Logo na primeira cena do filme, em que ele conta, com humor, a história do queijo gorgonzola ao parceiro de cela, fica evidente o que virá dali em diante: um filme calcado no talento de seu protagonista.

João Miguel é quem dá um jeito nas razoáveis atuações do restante do elenco. Também cabe a ele nos fazer rir e prestar atenção a uma história sem qualquer surpresa, mas que agrada pela despretensão – Estômago tange assuntos como a situação carcerária e o submundo da prostituição sem, em nenhum momento, virar denúncia. Cabe também a ele dar uma jeito nas fracas atuações de seus colegas de cena.

Assim como seu personagem, que será bem sucedido nos dois momentos do filme devido aos dotes na cozinha, João Miguel dá o tempero para um filme que, sem ele, seria dos mais indigestos.

LUIZ FELIPE FUSTAINO O FINO DA MOSTRA

ESTÔMAGO (Brasil, 2007)
Direção: Marcos Jorge

31 de out. de 2007

El Otro

Normal, até demais


Com um roteiro baseado inteiramente no anti-clímax, El Otro é um filme ligeiramente interessante, nada denso e extremamente entediante

PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


Juan Desouza é um advogado que tem que viajar a uma cidade do interior para visitar um cliente. Tudo parece ser normal, Juan não está com pressa nem tampouco estressado, mas o passageiro que está ao lado dele no ônibus morre durante a viagem, indicando que esta não será apenas uma viagem de trabalho, mas que acontecimentos peculiares estão por vir.

Depois de resolver sua situação com o cliente, Juan diz que precisa ir embora, mas na rodoviária desiste. Resolve se hospedar num pequeno hotel, mas com outro nome, por algum motivo que o filme faz questão de não explicar, e de repente Juan se vê hospedado em outro hotel, com um terceiro nome, o que também é deixado para a interpretação do espectador.

Ariel Rotter insiste em explorar inúmeros momentos de absoluto silêncio em El Otro, e os momentos de pouca ação, sem trilha sonora não estimulam o espectador a prestar atenção no filme, que tem uma história bem menos peculiar do que qualquer sinopse possa resumir.

Talvez a completa falta de ação e o marasmo que o filme apresentam sejam uma forma de mostrar como a vida não é uma coisa certa, ou que não estamos presos pra sempre nas escolhas feitas no passado, mas sem fazer os juízos de valor comuns a Hollywood. Talvez.

O que é apresentado ao espectador é uma sucessão de pequenos fatos que não têm muita importância para o roteiro e que poderiam muito bem não acontecer e a história se desenvolveria da mesma forma. Esses pequenos fatos demoram demais (pelo menos é a sensação que se tem, já que o filme tem apenas 83 minutos) para se desenvolver, para se concluírem em nada.


EL OTRO
(El Otro, Argentina/França/Alemanha)
Direção: Ariel Rotter.
Competição | 2007 | 83 min

23/10 | 18:40 - Unibanco Arteplex 1
24/10 | 16:20 - Cine Bombril Sala 1
27/10 | 16:40 - Cinemateca (sala BNDES)
29/10 | 20:20 - HSBC Belas Artes 2

30 de out. de 2007

O Amor nos Tempos do Cólera

O amor está lá. Já a cólera...

Mesmo com muitas escolhas infelizes, o diretor se salva nos momentos cômicos de O Amor nos Tempos do Cólera

GABRIELA MAYER
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


A cólera chegou de navio às Américas na década de 1830. Depois de matar milhares de pessoas na Europa, foi trazida também aos latino-americanos, espalhando a epidemia que provocava, entre outros sintomas, desidratação, vômitos e taquicardia.

Na Colômbia da segunda metade do século XIX, Florentino Ariza (Unax Ugalde/Javier Bardem) apresentava esses mesmos indícios, apesar de não ter passado perto da doença. O mal dele era outro: apaixonado por Fermina Daza, ele passou a vida vivendo em função do amor que sentia por ela e do qual ele nunca desiste, apesar de saber de seu casamento com outro homem, o médico Juvenal Urbino.

Em O Amor nos Tempos do Cólera, o diretor Mike Newell se esqueceu da primeira parte. A metáfora entre amor e cólera ficou perdida. O enfoque na doença, fundamental para que fosse possível compreender a comparação, foi superficial. Assim como no livro homônimo de Gabriel García Márquez, a metáfora tem que ser explicada verbalmente. Com a diferença que Newell tinha o recurso da imagem para esclarecê-la e o escritor, não.

A preocupação do diretor em ser fiel ao livro foi tanta que, além de ter ficado longo (são 138 minutos), o trabalho de Newell ficou preso aos recursos da literatura e alheio às saídas que o cinema oferece para adaptar.

Apesar de tanta fidelidade, o diretor optou por colocar seus atores, a maior parte de origem latina, para falar inglês. A grande perda dessa escolha foi nas atuações. Os atores pareceram limitados pela necessidade de falar inglês. Não que as atuações tenham sido ruins, pelo contrário. Mas pareciam ter ainda mais a oferecer. Inclusive Fernanda Montenegro, que interpreta a mãe de Florentino Ariza, dava a impressão de ter algo mais para mostrar.

Por outro lado, algumas vezes são esses mesmos atores que fazem o filme dar certo. Fermina Daza, interpretada por Giovanna Mezzogiorno, dá vida à personagem. Nos cinqüenta anos da história que são retratados, ela envelhece mais por suas expressões do que pela maquiagem.

Mesmo com uma direção problemática, o filme não fica apenas no prejuízo. Algumas perdas são compensadas pelas cenas cômicas, de um humor que até parece sem intenção, mas ainda assim incapaz de diminuir o exagero no rumo dramático da história.

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA
(Love in the Time of Cholera, EUA)
Direção: Mike Newell
Perspectiva 2007 138 min

25/10 16:50 - Cinemateca (sala BNDES)
26/10 21:30 - Cinemark Shopping Eldorado
30/10 20:10 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 1

29 de out. de 2007

TROFÉU BANDEIRA PAULISTA

Saiba quais são os filmes que competem ao prêmio do júri na 31ª Mostra de São Paulo.

Filmes de ficção (Competição)
A CASA DE ALICE (ALICE'S HOUSE), de Chico Teixeira / BRASIL
CORPO (BODY), de Rossana Foglia, Rubens Rewald / BRASIL
EL ORFANATO (THE ORPHANAGE), de Juan Antonio Bayona / ESPANHA
IRINA PALM (IRINA PALM), de Sam Garbarski / BÉLGICA, LUXEMBURGO, INGLATERRA, ALEMANHA, FRANÇA
LONGE DELA (AWAY FROM HER), de Sarah Polley / CANADÁ
O ANO DO PEIXE (YEAR OF THE FISH), de David Kaplan / EUA
O BANHEIRO DO PAPA (THE POPE'S TOILET), de Enrique Fernández, César Charlone / BRASIL, URUGUAI, FRANÇA
POSTALES DE LENINGRADO (POSTCARDS FROM LENINGRAD), de Mariana Rondón / VENEZUELA
TRUQUES (TRICKS), de Andrzej Jakimowski / POLÔNIA
XXY, de Lucia Puenzo / ARGENTINA, ESPANHA


Documentários (Competição)
A GRANDE LIQUIDAÇÃO (THE BIG SELLOUT), de Florian Opitz / ALEMANHA
MEU BRASIL (MY BRAZIL), de Daniela Broitman / BRASIL
O FILME DA RAINHA (THE QUEEN´S MOVIE), de Sergio Mercurio / ARGENTINA
SCREAMERS (SCREAMERS), de Carla Garapedian / REINO UNIDO, EUA
TRANSFORMARAM NOSSO DESERTO EM FOGO (THEY TURNED OUR DESERT INTO FIRE ), de Mark Brecke / SUDÃO, CHADE, EUA

A Casa de Alice

Intimidade superficial

A Casa de Alice tenta mostrar o que há de mais pessoal em uma família, mas cria vários conflitos mal-resolvidos e desinteressantes

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


É impossível falar de A Casa de Alice sem acabar sendo um estraga-prazeres, um spoiler. É a história de uma família em que todos os membros têm algo a esconder. Mas nenhum desses segredos dá início a uma boa história para se contar, o que faz com que revelá-los torne todo o filme bastante irrelevante. Na verdade, o filme se resume a criar um segredo, torná-lo público e esperar pela reação da família. Criar um segredo, torná-lo público e... assim vai.

Alice (Carla Ribas), mãe e protagonista do filme, não controla seus impulsos adúlteros, sobretudo devido à falta de sexo no casamento. O marido, Lindomar (Zécarlos Machado), tem um relacionamento com Thais, garota da mesma idade de seu filho caçula, Junior (Felipe Massuia). Edinho (Ricardo Vilaça), o irmão do meio, sempre aparece em casa com algum acessório caro, que seria incapaz de comprar com sua mesada – esconde da família os pequenos furtos que comete dentro da própria casa. Lucas (Vinícius Zinn), o mais velho, é bastante conservador – para deixar isso evidente, o filme cai na mesmice de caracterizá-lo como um oficial do exército –, mas consegue uma grana extra saindo com outros homens.

A Casa de Alice se propõe a contar uma história de uma família de classe média em seu lado mais pessoal, no que há de mais privado entre eles. Quer mostrar a casa de Alice. A proposta merece aplausos: em geral, o cinema nacional tem dificuldade em ser despretensioso - há uma nítida aversão aos pequenos problemas e uma necessidade infinita de discutir as mazelas sociais.

Mas nessa casa os pequenos delitos familiares são tantos e tão pouco explorados que não há qualquer expectativa quanto ao desfecho de cada uma das histórias.

A fraquíssima atuação do elenco também conduz a platéia ao desinteresse. Durante o filme, parece existir várias câmeras na casa de Alice e que a família está incomodada com a sua presença. Em nenhum momento fica a impressão de que a câmera não está lá, tamanha a artificialidade das cenas. Se isso é péssimo para qualquer filme, em um drama que busca revelar intimidades familiares acaba sendo fatal.

A CASA DE ALICE
(A Casa de Alice, Brasil)
Direção: Chico Teixeira
Competição | 2007 | 94 min

22/10 | 20:30 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 3
30/10 | 17:00 - Cinesesc
31/10 | 19:00 - Cinemark – Shopping Eldorado

28 de out. de 2007

Bomb It

A bomba da contra-cultura

Bomb It é provocador ao discutir a expansão do grafite e sua eficiência como arma de protesto

JULIO LAMAS
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA

[foto: Mariana Pasini]

A pichação não é tema incomum na história. É sabido que os romanos pichavam os muros cidade com gravuras que parodiavam a vida de aristocratas e políticos. Os gregos deixavam mensagens nas colunas do Parthenon, algo que, infelizmente, alguns turistas vândalos fazem até hoje nos ricos sítios arqueológicos. Sem falar dos nazistas que pichavam a casa dos judeus, simplesmente para facilitar a perseguição da SS e da Gestapo. E quando Reagan disse "Tear down this wall", lá estavam pichadas mensagens clamando por integração e liberdade.

Na cultura pop, dos nomes nos banheiros públicos aos nomes que estão no túmulo de Jim Morrison no Pere-Lachaise, em Paris. Na política, quando picham "viva la revolución" nas ruas da Havana de 1960, ou "fora Bush" nos prédios da Paulista nos dias de hoje, lá está. Até Costa-Gavras faz referência à pichação em Z (1961), quando manifestantes estampam a letra que simboliza "ainda vive" no asfalto, protestando contra a ditadura militar na Grécia.

E para mostrar isso, e ir além, Bomb It aborda a pichação, também como criação artística de vanguarda, o mal compreendido grafite.

Ao retratar o peso do grafite como questão para o debate público nos espaços urbanos contemporâneos, o filme elucida a sua propagação como forma de expressão e auto-afirmação. Além disso, propõe uma rasa análise das grandes metrópoles mundiais e suas contradições sociais na era da globalização.

Inicialmente, o documentário conta as origens do grafite como forma marginal de expressão na história moderna. Nos Estados Unidos, por exemplo, as pichações aparecem a partir do fim do século XIX e começo do século XX, com a vinda de imigrantes irlandeses e italianos que formavam gangues e usavam a pichação para demarcar seus territórios de controle, como acontece até hoje. Desde então, a pichação e o grafite estão associados à ascensão da criminalidade e ao vilipêndio do espaço público. Bomb It mostra como reacionários condenam o grafite para exercitar sua xenofobia e classicismo contra as minorias pobres.

Esse passado criminoso do grafite, a pichação, impede, até hoje, a sua legitimação como arte pela parte conservadora das sociedades modernas. Em Nova York e Los Angeles, o grafite ainda é combatido como crime, reprimido nas ruas e nas estações de metrô. No entanto, é evidente a sua consolidação como identidade, tanto cultural como comercial através da música e da moda hip-hop. O grafite lentamente ocupa espaço no capitalismo e nas galerias de arte.

Bomb It mostra como o grafite adquire diferentes facetas em outras cidades. Em Barcelona, assim como em Amsterdã, os grafiteiros sentem a necessidade de prosseguir com as evoluções estéticas atribuídas a compatriotas no passado. Na Cidade do Cabo, capital África do Sul o grafite se tornou num ponto de integração entre brancos, negros e crioulos, após o Apartheid. Em Tokyo, no Japão, onde o espaço público é sagrado, tenta-se colocar em pauta as questões da autonomia feminina e da emancipação cultural de maneira discreta, quase escondida.

Já a São Paulo apresentada em Bomb It é um caso a parte. A cidade é retratada como é: sem ordem e caótica. O grafite aqui se torna mais um reflexo da nossa famosa “desigualdade”, um prato cheio para os pragmáticos de plantão. A máxima fica por conta dos artistas Os Gêmeos, que ressaltam o axioma paulistano de que "aqui não se vive, se sobrevive".

O documentário provoca a excitação do público com a sua trilha sonora que vai do hip-hop e electro ao hardcore de Rage Against de Machine, aumentando e dialogando com grande impacto visual garantido pelos melhores artistas do grafite no mundo. Bomb it é uma pequena surpresa na 31ª Mostra, e um dos poucos filmes que vi sendo aplaudidos no final da sessão.

BOMB IT
(Bomb It, EUA)
Direção: Jon Reiss
Perspectiva | 2007 | 94 min

25/10 | 15:00 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
27/10 | 20:40 - Reserva Cultural 1
29/10 | 19:00 - FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado

27 de out. de 2007

Mutum

Não é preciso dizer nada

Mutum dispensa o falatório, valoriza as atuações de iniciantes e faz incríveis imagens no sertão

MARIANA PASINI
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


Assim como a história de Manuelzão e Miguilim, do livro Campo Geral, de João Guimarães Rosa, Mutum é todo contado pelo ponto de vista de uma criança. A obra do escritor mineiro serve de base para o filme, numa difícil tarefa de adaptação para o cinema que, no entanto, é desempenhada de forma bela e poética por Sandra Kogut. A diretora, autora de documentários intimistas como Um Passaporte Húngaro (2001) e Lá e Cá (1995), aventura-se no campo da ficção, conseguindo um resultado coeso e admirável.

A cidade que dá nome ao longa é característica dos romances de Guimarães Rosa: remota, perdida no meio do sertão mineiro, vítima da natureza implacável, que castiga os moradores de pouca fala. A escolha da diretora de usar intérpretes que vieram desse meio confere mais autenticidade ao filme: os atores estreantes de Mutum foram selecionados em João Pessoa, na Paraíba. Tiago da Silva Maris interpreta o menino de mesmo nome cuja sofrida e precoce transformação em adulto é o tema principal do longa.

Evoluindo no ritmo próprio do sertão, a história de Tiago fascina pela simplicidade e pureza com que é contada. Brincadeiras inocentes e alegres se misturam a conflitos sérios. Tentando suportar as dificuldades da vida no sertão, rumores sobre o possível adultério da mãe, o comportamento intolerante e violento do pai, o garoto é forçado a amadurecer e conviver com situações que ainda lhe são estranhas. Os problemas apareceram cedo demais, e Tiago tem de aprender a lidar com eles, mesmo que não esteja pronto.

Repletas de um realismo por vezes intrigante, as cenas de Mutum são louváveis. Um exemplo é a passagem em que os pais de Tiago discutem e partem para uma briga séria, chegam a gritar um com o outro e a derrubar pratos e copos, produzindo um barulho assustador para uma criança de 10 anos. A câmera enquadra o rosto de Tiago, mostrando as lágrimas que correm no seu rosto, e o som caótico da briga é a única evidência de um conflito. A cena não é retratada dessa forma à toa: o foco do filme são mais as reações e os sentimentos de alguém incapaz de compreender perfeitamente o que se passa à sua volta do que o ambiente em que ele vive.


A morte também entra no cotidiano do menino, mas Kogut escolhe mostrá-la de forma indireta: pela dor dos personagens. Por essa opção corajosa chega-se a episódios que dissimulam seu drama de maneira sutil, como na cena em que a avó de Tiago retira os lençóis e o colchão em que Felipe, irmão de Tiago, falecera.

Mutum também pode significar "mudo" – o título do filme traduz os silêncios de que o universo de Tiago também é feito. Ele tem de enfrentar sozinho um lugar cheio de intrigas, passando por experiências que consolidarão o caráter que irá formar. Ao mesmo tempo em que decifra esse lugar, lhe será dada a oportunidade de deixá-lo por um médico que lhe empresta seus óculos, com os quais ele enxerga muito melhor – a metáfora presente na passagem é gritante, talvez em demasia. Num final emblemático, a decisão de Tiago evidencia a maturidade que o menino conseguiu alcançar.

A realidade é expressa através das expressões e olhares dos personagens, e não por meio de diálogos ou falas, que são escassas. Fugindo de estéticas antiquadas e sentimentalistas, Kogut trata do conflito entre a inocência pueril, cheia de esperanças e desejos, e uma realidade esmagadora que reprime e confunde.

O filme venceu o prêmio oficial do júri no Festival do Rio desse ano e foi eleito o representante brasileiro na Quinzena dos Diretores do Festival de Cannes. Tratando do sertão de forma simples, sem glamour novelesco, eleição de heróis ou a separação nítida entre bem e mal, Mutum tem beleza própria.

MUTUM
(Mutum, Brasil)
Direção: Sandra Kogut
Competição | 2006 | 95 min

24/10 | 20:30 - Cine Bombril 1
25/10 | 15:10 - Espaço Unibanco de Cinema 3
28/10 | 15:30 - Cine Bombril 2

No Vale das Sombras

Paul Haggis e suas fórmulas pretensiosas

No Vale das Sombras é um filme com cara de Oscar cujos bons momentos são encobertos pela sombra de seu diretor

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


No Vale das Sombras narra a busca de Hank Deerfield por seu filho, Mike, que foi soldado na guerra do Iraque, mas desapareceu após retornar aos EUA. O filme tem uma ótima trama, que explora os aspectos psicológicos da guerra do Iraque. Para os pais, Mike era apenas um garoto patriota que ingressou no exército para levar a "democracia" até nações oprimidas, o mesmo argumento utilizado pelo governo americano para manter ocultos seus verdadeiros interesses. Entretanto, o filme revela aos poucos que Mike é uma pessoa muito diferente dessa imagem idealizada de "bom garoto", um homem estigmatizado pelo trauma da guerra e dono de uma consciência bastante deturpada.

O filme, em vez de apenas mostrar a situação dos soldados que voltam traumatizados do Iraque, acaba caindo no erro de tentar encontrar justificativas para tudo. Uma delas é a vontade de colocar a culpa no consumo de drogas, moralismo que a narrativa quase abraça, mas se recupera a tempo. Outro problema é tentar minimizar crimes de guerra sob a justificativa de que os soldados estavam "protegendo a pátria", o que não se sustenta de forma alguma e acaba enfraquecendo a trama. São inconsistências que o roteiro acaba corrigindo no decorrer do filme, mas a sensação ruim de moralismo acaba permanecendo.

A preocupação com a mensagem, os temas e as reflexões é latente, mas não submete as técnicas cinematográficas a uma desvalorização. A filmagem tem seus bons momentos, como o ritual matutino do pai de Mike, que arruma minuciosamente sua cama, suas roupas e seus sapatos. Ao mostrar esse ritual militar que permanece no protagonista mesmo 20 anos após sua aposentadoria, o filme diz que determinadas experiências nunca se vão. A guerra é uma delas.

Em sua obra anterior, Crash, Paul Haggis criou uma narrativa aparentemente complexa para falar do preconceito latente na sociedade norte-americana, em um filme feito sob medida para o Oscar com seu final edificante e moralista. Com No Vale das Sombras, não carregou tanto no sentimentalismo barato, mas ainda assim parece se preocupar apenas em criar filmes que a Academia americana, com seus decanos conservadores, pensará em premiar. A atuação de Tommy Lee Jones, apesar de boa, é feita sob medida para um Oscar de melhor ator.

No Vale das Sombras tem seus defeitos, mas é capaz de provocar diversas reflexões sobre a sociedade americana atual e a tendência patriótica de auto-ilusão que muitos utilizam para superar os traumas da guerra e relevar os crimes do governo. Mas é bom que Paul Haggis não se engane – sua fórmula "vou fazer um filme sobre traumas psicológicos na América para ganhar o Oscar" já está bastante desgastada e não vai suportar outras reprises.

NO VALE DAS SOMBRAS
(In the Valley of Elah, EUA)
Direção: Paul Haggis
Perspectiva | 2007 | 121 min

23/10 | 19:00 - Cinemark - Shopping Eldorado
24/10 | 21:20 - iG Cine
25/10 | 13:30 - Cinesesc

O Clube de Leitura de Jane Austen

Uma Jane Austen conservadora

O Clube de leitura... tem bons momentos, mas se equivoca ao transformar a obra de Jane Austen em moralismo convencional

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


O Clube de Leitura... tem como premissa a vida de várias mulheres que têm um ponto em comum: o amor pela obra literária de Jane Austen. A partir desta paixão, elas formam um clube de leitura para discutir as seis obras da escritora inglesa, agregando mais tarde três homens ao grupo – obviamente, interesses amorosos das protagonistas.

O filme, obviamente, foi feito para atrair todos os tipos de público, já que tem diversas situações engraçadas e é de fácil apelo. Entretanto, só quem leu toda a obra de Jane Austen será capaz de compreender os paralelos entre a vida dos personagens do filme e dos livros. Os diálogos do clube não explicam para o espectador quem são Marianne, Elinor, Emma, Mr.Knightley, Fanny Price, entre outros. Mesmo assim, a narrativa é capaz de prender a atenção de todos os espectadores, sem nunca ser cansativa.

Um dos grandes trunfos do filme é que ele provoca uma vontade enorme de ler todos os livros da escritora inglesa, o que acaba mantendo-o na memória das pessoas por mais tempo do que aconteceria se ele concentrasse apenas nos relacionamentos entre os personagens. Como a obra de Jane Austen é excepcional e não se esgota mesmo após releituras sucessivas, O Clube de Leitura... ganha relevância por discutir, mesmo que superficialmente, vários temas dos livros. Sem esse forte ponto de apoio, o filme não se sustentaria.

O filme, entretanto, acaba caindo no moralismo barato ao usar o nome de Jane Austen para justificar as escolhas mais conservadoras da trama. Todas as mulheres que têm problemas com seus casamentos no filme, em vez de terminá-los sem traumas e seguir com a vida, ficam eternamente no dilema volto ou não volto, fiz certo ou não... Quando Prudie está em dúvida se trai ou não o marido que não ama mais, aparece a frase "O que Jane faria?", como justificativa para a "integridade" da personagem ser mantida. Mas as situações não são, nem de longe, as mesmas. O divórcio, na época de Jane Austen, só existia caso a mulher fosse infiel. Ao defender que o casamento era a mais importante escolha da vida da mulher, portanto, a escritora não demonstrava conservadorismo, e sim um realismo que condizia com sua época. Mesmo assim ela jamais defendeu que as mulheres deveriam se acomodar e casar sem amor só por uma boa situação financeira. As mulheres contemporâneas não passam por essas privações. Transformar o pensamento de Austen em algo tão tradicional é tirar a obra de seu contexto para justificar o conservadorismo da trama de O Clube de Leitura...

Para os amantes da elegante ironia e da inteligência de Jane Austen, o filme é interessante e gostoso de assistir, embora não passe disso. Para os que não a conhecem, é uma boa oportunidade para se interessar pelos livros. Infelizmente, esse é o saldo final que o filme transmite, já que não se aprofunda nas questões dos livros de Austen, usando-os apenas como ponto de partida. Mas é inegável que O Clube de leitura... é um filme agradável e que merece, ao menos, uma pequena atenção. Que faltou a ironia mordaz de Austen no filme, isso é mais que inegável. Pena que o diretor não é nenhum Mr.Darcy...


O CLUBE DE LEITURA DE JANE AUSTEN
(The Jane Austen Book Club, EUA)
Direção: Robin Swicord
Perspectiva | 2007 | 107 min

21/10 | 20:20 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 1
22/10 | 18:50 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
24/10 | 13:30 - Cinesesc

26 de out. de 2007

Paranoid Park

Skateboard não é crime, é chato

Com enredo intrigante, porém mal desenvolvido, Gus Van Sant enche de tédio as salas de cinema

PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


Logo no começo do filme já dá pra perceber que a trama se desenvolverá a partir do diário de Alex, e ele mesmo já avisa: “não sei escrever as coisas de acordo com a ordem em que elas aconteceram”.

Em Paranoid Park, Gus Van Sant conta a história de Alex Tremain, um jovem skatista que mata por acidente um agente da segurança das imediações da pista de skate que dá nome ao filme. Porém, o episódio em que o roteiro gira em torno demora demais para acontecer, e, quando acontece, passa rápido demais.

Depois de Elefante, mais uma vez o diretor quis filmar sobre a juventude norte-americana e sua falta de perspectiva e de interesse em relação à escola e ao futuro, e é exatamente aí que está o problema: um filme sobre a falta de interesse e de ação na rotina de um adolescente torna-se inevitavelmente chato.

As cenas enfadonhas, da câmera seguindo os passos de alguns personagens pelos diferentes ambientes do filme e o clima de tédio e solidão de Last Days - Últimos Dias se repetem em Paranoid Park. Mas isso não chegaria a ser um problema se a história deixasse claro que foi feito de propósito, mas não é o que acontece. Ao espectador fica apenas a impressão de que o roteiro é mal pensado, e por isso as cenas foram estendidas à exaustão.

Van Sant tenta prender a atenção do espectador se utilizando da falta de habilidade para escrever no diário, confessada pelo próprio Alex, para fazer um roteiro não-linear e tornar o filme um pouco mais intrigante, mas tudo isso é superado pela falta de ação. Até mesmo a cena da morte brutal do segurança é extremamente parada e o que deveria ser chocante (a cena de um corpo cortado ao meio) é mostrado de forma tão banal que mal causa impacto no cinema.

Em resumo, Paranoid Park é um filme bem filmado e bem atuado, porém chato e tedioso, não recomendado para horários cruciais de sono, como depois do almoço ou durante a madrugada.


PARANOID PARK
(Paranoid Park, França/EUA)
Direção: Gus Van Sant
Perspectiva | 2007 | 90 min

26/10 | 22:40 – Reserva Cultural 1
27/10 | 23:20 – Frei Caneca Unibanco Arteplex 1
30/10 | 17:10 – Espaço Unibanco 3

Ruptura

Videoclipe de mau gosto

Ruptura insulta a inteligência do espectador ao substituir competência cinematográfica por um vídeo a-la-MTV e ainda se levar a sério

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


Ruptura conta a história de Nia, um jovem que se envolve em uma briga e resolve vingar a morte de seu amigo Pulpo, ferido gravemente pelo líder de uma gangue rival, Spirit. Após a briga, Nia é mandado para uma prisão juvenil, na qual se passa grande parte do filme.

Estereótipo do filme de "mano" que tenta a todo custo ser descolado, Ruptura caracteriza-se pelo visual pretensiosamente arrojado e violento (como metáfora do mundo imprevisível das ruas) e pelo vocabulário lotado de gírias, que parecem surgir mais de um “afetamento” da linguagem natural da periferia do que de um retrato fiel ao universo dos jovens.

O filme faz questão de ressaltar o lado herói de Nia, que mesmo em sua condição de marginalidade consegue ainda preservar certos "princípios". Ele é o arquétipo típico do herói que faz coisas erradas (rouba, é agressivo, etc) mas no final é capaz de se redimir (com a dança em vez do assassinato), principalmente por amor (e essa é a única utilidade do personagem da promotora). É a trajetória de todo herói hollywoodiano, aqui repetida nos mesmos moldes. Ironicamente, não há nada menos glamouroso e hollywoodiano do que o verdadeiro cotidiano das ruas.

Apesar de ser retratado com certa superficialidade, Nia é carismático, o que ajuda o filme a conseguir certa empatia. Os demais personagens, entretanto, são tão estereotipados que é impossível levá-los a sério. O garoto socialista do centro de recuperação é o exemplo mais emblemático desse clichê: em todos os momentos possíveis ele fala algo como "Porcos capitalistas!" e coisas do gênero. A narrativa faz questão de utilizá-lo extremamente mal, dizendo que ele chegou ao centro por atirar coquetéis molotov (maior clichê comunista não há) e por rebeldia, que ele é o único que lê algo e só escuta no rádio emissoras ligadas ao socialismo, etc.

Mesmo tentando a todo custo ser um filme "descolado", Ruptura é moralista e clichê ao extremo. O final, que elege a dança e a música como possíveis “salvações” para Nia é de um didatismo enorme. Lição de moral é cinematograficamente insuportável, principalmente porquê o filme tenta construir uma narrativa que vê Nia e seu grupo com compreensão, mas no final simplesmente afirma, com arrogância: OK. Nós entendemos vocês e os achamos simpáticos, mas prestem atenção, porque nós temos as soluções para a marginalidade! A narrativa paternalista tira toda a graça que o filme teria se apenas apresentasse as situações em julgá-las.

O filme deixa de lado muitas questões que seriam muito interessantes, como o caso do melhor amigo de Nia dentro do reformatório. Ao mesmo tempo em que o garoto possui e obedece ao código de honra das ruas, ou seja, não dedurar nem fraquejar, ele tem uma moral estranha: ao ver a promotora que está tentando ajudar Nia, ele tenta estuprá-la, coisa que Nia, de acordo com a narrativa, jamais faria. O filme, entretanto, deixa essa questão de lado, em vez de aprofundar os paradoxos das situações dos internos.

A música é usada com muito mau gosto, já que parece visar afastar a atenção do espectador das imagens fracas que o filme oferece. Entretanto, a trilha sonora é contagiante e dá uma ótima sensação no final da projeção. O ritmo musical agradável acaba maquiando os inúmeros problemas do filme. Em muitos momentos vemos Nia, durante a noite, dançando em seu quarto, cena que se repete várias vezes e praticamente é o símbolo do filme. É como se todo o filme fosse um enorme vídeo clipe que antecede a seqüência final, a da vitória pela dança. E tudo que vem antes, na verdade, não tem muita importância.


RUPTURA
(Breakout, Suíça)
Direção: Mike Eschmann
Perspectiva | 2006 | 94 min

21/10 | 14:00 - Memorial da América Latina
28/10 | 12:40 - HSBC Belas Artes 2
31/10 | 19:40 - Cine Bombril 1

25 de out. de 2007

XXY

Você decide

Com protagonista hermafrodita, o argentino XXY busca entender como a vida é afetada pelas escolhas de cada um

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Cabe a Alex decidir tudo. Ao contrário de boa parte das crianças hermafroditas, que têm o pênis retirado ainda na infância, Alex (Inés Efron) recebeu dos pais o direito da escolha. Aos 15 anos, os pais acreditam ter chegado a hora da decisão para Alex.

Kraken e Suli (Ricardo Darín, sempre ele!, e Valeria Bertuccelli), os pais de Alex, vivem a incerteza da atitude que tomaram no nascimento da criança. Embora tenham cuidado dela como uma filha, também vivem com angústia esse momento que acreditam ser de escolha entre duas opções: continuar mulher ou assumir-se como homem. Mas e se o melhor mesmo não for decidir nada, deixar tudo como está?

Os dilemas de Alex e de seus pais são muito bem retratados em XXY, filme de estréia de Lucía Puenzo e que venceu o prêmio da Semana de Crítica em Cannes. Os diálogos, que acabam até forçando a barra por evitarem qualquer hipocrisia, são poucos e dão espaço a ótimos momentos de silêncio. Algumas cenas de intimidade sexual, próprias de um filme que se propõe a tratar de uma pessoa que convive com dois órgãos genitais, são brilhantes: a forma como Alex escova os dentes tem uma conotação sexual, a maneira como lida com uma amiga ainda mais nova que ela enquanto tomam banho juntas é ainda mais perturbadora.

Lucía Puenzo está sempre se referindo a decisões. Com o nascimento da criança hermafrodita, os pais decidiram se mudar da Argentina para um vilarejo no Uruguai e nunca sabem ao certo como essa mudança pôde ter influenciado no comportamento de Alex. Suli também toma uma complicada decisão ao convidar uma família de argentinos cujo pai é cirurgião plástico para um fim-de-semana em sua casa - uma decisão que irá fazer com que o filho desses argentinos também reveja sua sexualidade e se depare com decisões.

A maneira como XXY retrata o hermafroditismo, envolvendo o tema em questionamentos universais ao invés de aprisioná-lo a uma característica sexual restrita a poucas pessoas, transforma o filme em um momento de reflexão sobre as relações familiares e as intimidades sexuais de cada um. Em nenhum momento a diretora tenta explicar o que é ser hermafrodita, mas fica nítida uma busca pela compreensão de como a vida é afetada por escolhas. Lucía Puenzo tomou a decisão correta.


XXY
(XXY, Argentina/Espanha)
Direção: Lucía Puenzo
Competição | 2007 | 86 min

24/10 | 19:50 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
25/10 | 22:40 - Reserva Cultural Sala 1
31/10 | 23:20 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 4

Condor

Salvo pelos próprios ditadores

O único mérito de Condor são as confissões dos militares, ridicularizadas ao longo de todo o filme

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Condor são dois filmes, não um. O primeiro deles contextualiza a operação Condor, uma estratégia armada pelos militares ditatoriais da America Latina dos anos 70, sobretudo países como Argentina, Chile e Brasil. O outro traz histórias de bebês seqüestrados pelas ditaduras e que migraram de um país a outro por meio desse aparelho militar integrado. O primeiro, político e engajado, é um péssimo filme. O segundo, em que extrapola a questão política e aborda dramas familiares com certa sensibilidade, é tolerável, mas tão curto que acaba sendo também irrelevante.

O verdadeiro mérito do diretor Roberto Mader foi mostrar Jarbas Passarinho, aliado do ditador Figueiredo, assumindo a existência da Operação Condor. Mas a abordagem totalmente comprometida com a vilanização dos ditadores faz com que o documentário falte com a verdade histórica.

Mader consegue responder à pergunta "como foi a operação?", mas só é capaz de respondê-la pois aquele material, repleto de torturas, mortes e desaparecimentos, compromete apenas os réus de seu filme. O diretor evita tratar de uma pergunta crucial: afinal, por que existiram os anos de Condor? Qual seria a razão para se armar um esquema continental de repressão? Ao deixar esse assunto de lado, têm-se a impressão de que os militares são gratuitamente truculentos.

Evitar esse questionamento sinaliza um diretor comprometido com as esquerdas, vitimizadas de cabo a rabo ao longo do documentário. Para responder a essa pergunta, seria preciso mostrar atitudes violentas realizadas por aqueles em quem Mader prefere fazer um cafuné.

A ausência de um olhar autocrítico dessas esquerdas faz de Condor um documento histórico muito frágil. Por ironia do destino, são os depoimentos de Jarbas Passarinho e Manuel Contrera, aqueles que a montagem prefere expor ao ridículo, que dão algum valor ao filme. Até porque são eles os personagens realmente confrontados pelo diretor. Se também colocasse as esquerdas no banco dos réus, talvez Condor não seria tão descartável.

CONDOR
(Condor, Brasil)
Direção: Roberto Mader
Competição | 2007 | 108 min

24/10 | 21:30 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
25/10 | 13:00 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 1
01/11 | 21:10 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 3

Um Jogo de Vida ou Morte

Um filme em três sets

O remake de Um Jogo de Vida ou Morte estabelece um novo padrão de qualidade para as obras que serão refilmadas

JULIO LAMAS
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


O diretor irlandês Kenneth Branagh - famoso por suas adaptações cinematográficas de obras da literatura clássica como Hamlet de Shakespeare e A Flauta Mágica, a ópera de Mozart - se arrisca com o moderno em seu mais recente trabalho. Trata-se de uma ousada refilmagem do cultuado Um Jogo de Vida ou Morte (Sleuth), vencedor do Tony de 1972.

Na trama, Milo Tindle (Jude Law), um jovem ator, encontra o bem-sucedido escritor de contos policiais Andrew Wyke (Michael Caine). O propósito de sua visita é convencê-lo a se divorciar oficialmente de Maggie, sua atual namorada. Sem floreios, o embate verbal e psicológico começa na porta da casa de Wyke, logo que este se vê em frente ao homem que roubou sua esposa. Enquanto conversam, os dois se estudam e atacam com ironias. Apesar do sarcasmo sádico, tipicamente inglês, a conversa possui um tom relativamente pacífico.

O escritor diz que dará o divórcio, no entanto, o dinheiro é a única razão que mantem Maggie incapaz de deixá-lo. Ele oferta para Wyke as jóias dela que se encontram no cofre de seu quarto, porém para que ele as leve é preciso que simule uma invasão. Trata-se de uma mentira para fazer Tindle cair no seu domínio e ficar vulnerável aos seus atos de crueldade e humilhação.

Os dois personagens concordam que estão num jogo de dominação e manipulação, assim estabelecem uma disputa em 3 "sets" para ver quem ficará com a mulher-troféu no final. No primeiro set, Tindle perde ao desmaiar de medo com um tiro de festim, mas volta para se vingar e ganha o segundo com seus talentos interpretativos. Já no terceiro e decisivo ato se desenrola uma disputa de elevada carga emocional entre os dois, atingindo um nível cinismo que pode ser fatal para ambos, mas que faz a platéia se divertir com as atuações inusitadas de ambos.

Inicialmente se enxerga nos dois personagens uma óbvia distinção. Um é jovem e inocente, e o outro velho e megalomaníaco. Porém, conforme os dois se confrontam e seus egos se chocam, as diferenças ficam pouco nítidas. Os interesses conflitantes acabam por torná-los iguais no caráter sádico e paranóico do jogo que se concretiza. A mulher passa a ser o de menos, e a competição é apenas pelo prazer da vingança.

É imperativo atentar para o campo de batalha, a casa de Wyke, que ajuda a construir as emoções da trama. A suntuosa mansão tem câmeras escondidas por todos os seus cômodos e saídas. Já a ostensiva decoração interior infere uma sensação intimidadora que dá identidade ao filme. A casa é um exemplo de modernidade e tudo nela é controlada por um único controle remoto que determina as condições da batalha a ser travada. O domínio sob o ambiente se torna essencial para vencer.

O criativo roteiro adaptado é assinado por Harold Pinter, vencedor do Nobel de Literatura em 2005, o que assegura alguma qualidade no texto interpretado por Jude Law e Michael Caine, que esteve também no premiado original de 1972 no papel de Tindle. Nessa primeira versão Laurence Olivier fazia o papel de Wyke.

Um Jogo de Vida ou Morte é um filme que combina a peculiaridade intelectual do roteiro com a arrojada de direção que Branagh aplica aos seus atores. Vale ressaltar que a trilha sonora é autoria do nomeado ao Oscar, Patrick Doyle, que por sua vez, assegura o constante clímax da obra. Enfim, é um ótimo entretenimento e possui todos os elementos que rendem as boas avaliações dos que assistem.


UM JOGO DE VIDA OU MORTE
(Sleuth, EUA)
Direção: Kenneth Branagh
Perspectiva | 2007 | 92 min

23/10 | 17:10 – Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
27/10 | 23:40 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 4
28/10 | 22:20 – Cine Bombril 2

Bamako

Brincando de Godard na África

Bamako herda o que há de mais chato no cinema que também remete a Marx e Glauber

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Melé, uma cantora de bar, está prestes a acabar seu casamento com Chaka, que está desempregado. Mas essa história de amor pouco importa. Essencial mesmo é saber que eles estão em Bamako, capital da República do Mali, e é no quintal da casa deles que acontecerá um estranho tribunal em que representantes civis se posicionam contrários às intervenções do FMI e do Banco Mundial na África.

Se a história de amor é pretexto para o filme político, o tribunal também é uma forma de representar um palanque sem ter que construí-lo ali, num quintal.

Abderrahmane Sissako, uma espécie de Godard africano, alterna personagens em sua tribuna improvisada, criticando o capitalismo, o neocolonialismo, o liberalismo e, como não poderia faltar, Bush. Com os mesmos anseios intelectuais dos franceses de 68, que hoje soam anacrônicos, Bamako cria situações em que os “opressores” sempre cometem asneiras durante o tribunal, enquanto os “oprimidos” têm momentos de glória em alguns de seus discursos.

Bamako é filme para quem gosta tanto de discursos comunistas dos mais inflamados que é capaz de agüentá-los por duas horas em uma sala escura. E não vale aplaudir no meio.

Não bastasse o excesso de discursos, ainda em sua primeira metade Bamako oferece ao espectador um constrangedor momento metalingüístico. Dentro do filme, aparece um faroeste a-la-Glauber Rocha estrelado pelo engajado Danny Glover, não à toa um dos produtores do filme. Mais panfletagem, só que com uma dose de referência cinematográfica para agradar a crítica em geral.

Não é apenas Hollywood, com seus diamantes de sangue e hotéis ruandas, que ainda não conseguiu falar sobre questões africanas sem maniqueísmos. Até mesmo um africano acaba sendo mesquinho por trás das câmeras.


BAMAKO
(Bamako, Mali/França)
Direção: Abderrahmane Sissako
Seleção FESPACO | 2006 | 115 min

23/10 | 16:30 - Memorial da América Latina
24/10 | 11:00 - FAAP
25/10 | 19:10 - Cinemateca (sala Petrobrás)
27/10 | 14:20 - HSBC Belas Artes 2

Garçom

A história pela história

Provando que nem só de amolações intelectuais é feito o cinema, Garçom recorre à simplicidade que dá certo

MARIANA PASINI
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


Garçom muito provavelmente vai passar despercebido nessa 31ª Mostra. Nada de tramas que não fluem, questionamentos sem respostas ou pontos de vista obstinados. O filme do holandês Alex van Warmerdam não conta com grandes expectativas por parte da crítica e sequer tem ambições muito maiores do que contar uma história, ou melhor, a história de uma história – e é esse o seu ponto forte.

O próprio diretor encarna na pele de Edgar, homem de 50 anos que exerce a profissão declarada no título. Uma esposa doente o espera em sua casa, mas ele mantém um caso desgastado e fadado ao fim com a irritante Victoria. Edgar deseja sair de uma rotina que varia entre um tédio surreal e uma série de mal tratos contra os quais ele não faz nada. Nada muito diferente do esperado de um personagem de um longa com pretensões de ser alternativo. A variante do caso de Edgar é que ele tem acesso à pessoa que controla sua vida.

Herman é o roteirista que desenvolve os acontecimentos pelos quais passa o garçom, que chega a procurá-lo em sua casa, revoltado com o rumo que estão tomando. A esposa do escritor, Suzie, arruma grandes conflitos com o marido por conta de suas opiniões sobre o texto e muitas vezes também das modificações que nele empreende. A grande sacada metalingüística do filme não é muito original. Impossível não citar Mais Estranho que a Ficção, do diretor Marc Forster com o impagável Will Ferrell, para comparar. Porém, o longa faz mais experimentações no campo do surreal, dispensando papos-cabeça filosóficos sobre a vida e seu sentido – ou a falta dele. O espectador agradece.

Num humor pastelão que nunca falha, Edgar é agredido por vizinhos mafiosos, insultado pelos clientes no restaurante, atormentado pela amante carente, forçado a esperar minutos intermináveis para que o atendente embrulhe seu pedido. O modo pelo qual o criador trata sua criatura – que transita pelas vias do desprezo e da raiva – chega a ser cômico. O garçom é submisso até na hora em que reclama episódios mais prazerosos para o roteirista. Ele chega a conceder-lhe momentos agradáveis (mas que não duram muito) com Stella, uma mulher misteriosa.

Herman, a princípio indeciso sobre o destino de Edgar, admitindo o desastre cinematográfico que a narrativa constitui, não hesita em aplicar-lhe um fim trágico, que parece ter sido solicitado apenas para acabar com o tormento que foi escrever aquela história.

A grande vitória de Garçom está em provocar idéias no público. Van Warmerdam não convida ninguém a entrar na tela e decidir a sorte de seu personagem, mas compõe as cenas de modo que seja impossível não indagar-se sobre o futuro a ser dado ao dócil e sofrido garçom. Sem querer, o longa acaba lembrando que também os filmes podem ter os seus momentos de arte pela arte. Pelo singelo prazer de pensar e narrar uma história, é um cinema que dá vontade de fazer cinema.


GARÇOM
(Ober, Holanda)
Direção: Alex van Warmerdam
Perspectiva | 2006 | 97 min

20/10 | 19:00 – Memorial da América Latina
24/10 | 12:40 – HSBC Belas Artes 2
30/10 | 18:30 – Cine Bombril Sala 2

24 de out. de 2007

Sombras de Goya

Um Goya fantasmagórico

Milos Forman fracassa ao tentar criar um filme capaz de transitar entre diferentes gêneros cinematográficos

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


Na Espanha de 1792, com o recrudescimento da Inquisição, a jovem Inez Bilbatua, musa do pintor Francisco Goya, é acusada de heresia. O padre Lorenzo, líder do movimento que guiava a repressão comandada pela igreja, se envolve com Inez, e a partir daí a trama girará em torno do destino dos dois personagens e os desdobramentos históricos da época.

O pintor é muito mal retratado em Sombras de Goya. Apesar do trabalho excelente do ator Stellan Skarsgård, que consegue passar grande parte da expressividade do artista através do olhar, o roteiro é feito para evidenciar dois personagens: Inez e Lorenzo. Francisco Goya parece ser apenas um artifício do texto para juntar as vidas dos dois personagens. E convenhamos: isso não seria um problema se esse ponto de ligação fosse qualquer outra pessoa. Mas colocar um artista perturbador como Goya atuando apenas como catalisador é, no mínimo, provocação.

O filme transita sempre entre dois gêneros: o drama (descarado) e a farsa (e não a comédia). Explico: a intenção do filme não é fazer rir, e sim evidenciar o tom de farsa de determinadas situações (como a afirmação de Lorenzo sobre a eficácia do método de interrogatório feito pela igreja – a tortura). Mas esse tom irônico não foi desenvolvido de forma eficiente, já que só é capaz de provocar risadas advindas do ridículo. E é aí que surge, para mim, o principal problema do filme: a ridicularização excessiva (digo mais – a espetacularização) de temas seríssimos e nevrálgicos, como a Inquisição. Não há nada de engraçadinho no extermínio de inocentes promovido pela igreja na época. O tom de farsa torna-se, em vez de irônico, um propagador do mal gosto.

É importante ressaltar que não existem temas proibidos para a ironia, a farsa e a comédia. Mas é preciso de uma delicadeza e um senso irônico que nem todos conseguem alcançar. O próprio Monty Phyton fez uma sátira ao mesmo assunto do filme com o quadro The Spanish Inquisition!, que era hilário e sem toques de maus gosto – um humor negro inteligente. E é isso que falta ao filme do diretor Milos Forman.

Entretanto, o filme tem raríssimos momentos excelentes, como o a confecção de uma das gravuras de Goya. É uma cena tão interessante e mágica que é como se, pela primeira e única vez no filme, algo do espírito da obra de Goya surgisse da película. Seria absolutamente emocionante, se não fosse tão curta. Mesmo assim, são esses momentos de beleza que acabam sempre perdurando nos filmes, não importa quão fugazes eles sejam. A fotografia do filme, em alguns momentos (como na execução de Lorenzo), é capaz de capturar um pouco da atmosfera sombria das obras de Goya, e são essas poucas cenas que são capazes de criar uma imagem duradoura na mente do espectador.

O que fica para mim de positivo, fora o momento da confecção da gravura, nada tem a ver com o filme em si – são as obras de Goya mostradas durante os créditos e a abertura. Gravuras maravilhosas da Coleção Caixanova que, com certeza, poderiam dar o tom para um filme excepcional sobre a obra do artista espanhol – que, infelizmente, não é Sombras de Goya.


SOMBRAS DE GOYA
(Goya’s Ghosts, EUA/Espanha)
Direção: Milos Forman
Perspectiva | 2006 | 114 min

19/10 | 19:00 – Cinemark Shopping Eldorado
21/10 | 18:20 – iG Cine
23/10 | 13:00 – Frei Caneca Unibanco Arteplex 1

Drum

Nem a África do Sul escapa

Repleto de maneirismos do cinema de Hollywood, Drum só é um filme sul-africano na ficha de inscrição

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


Drum conta a história do jornalista Henry Nxumalo, que resolve denunciar em suas matérias a opressão e o extermínio a que estão sendo submetidos o povo negro na África do Sul do apartheid. O roteiro, apesar de batido, poderia funcionar, se não fosse baseado em emoções fáceis e estereótipos facilmente reconhecíveis. Não existem personagens, existem modelos já determinados: o jornalista “guerreiro”, que vive por uma causa, sua determinada mulher, o chefe de redação cínico mas que acaba entendendo a grandeza da causa, os amigos, etc. Nada, absolutamente nada, sai desses padrões há muito determinados no mundo dos rótulos.

Os clichês da trama são inumeráveis, além de irritantes: a trajetória do herói que luta por uma causa e serve de elemento catártico para comover o povo e levá-lo à conscientização, músicas melosas nas mortes de personagens, frases de efeito sem profundidade alguma, entre outros elementos tipicamente hollywoodianos – no que a indústria cinematográfica americana tem de pior.

A história do jornalista que tenta lutar contra as injustiças da sociedade através de denúncias e muita coragem já é, por natureza, um perigo em potencial, porque é uma imagem saturada que oferece poucos caminhos alternativos para o diretor. Considerando que o filme é uma cinebiografia, os problemas aumentam, por ser esse um gênero cinematográfico incerto; ou ele é irrelevante em relação ao personagem, ou eleva o biografado à categoria divina, ou – raramente – é capaz de alcançar um equilíbrio entre o personagem real e a esfera cinematográfica. Drum, entretanto, não é um filme que tenha esse equilíbrio, já que cai na armadilha da manipulação emocional para tentar captar a atenção do espectador.

Dizer em uma crítica que um filme é ruim porque é cheio de clichês tornou-se, ironicamente, um outro clichê, e de natureza perigosa. É preciso nomear os clichês, apontar suas idéias redutoras e pré-concebidas, na tentativa de restaurar uma visão multifacetada do mundo. O clichê extingue a diversidade, ou seja, fomenta o preconceito, e é irônico que um filme como Drum - cuja trama gira em torno do combate ao racismo - use técnicas tão conservadoras e contrárias ao ideal da diversidade. Um filme anti-preconceito que estereotipa o mundo que retrata.

Drum prometia mostrar um pouco do cinema sul-africano, suas peculiaridades, belezas e surpresas. Entretanto, o que se vê é um filme que repete todos os padrões da indústria hollywoodiana e poderia muito bem ser confundido com um filme americano.

DRUM
(Drum, África do Sul)
Direção: Zola Maseko
Seleção FESPACO 2004 104 min

19/10 15:20 Espaço Unibanco 3
24/10 14:40 Frei Caneca Unibanco Arteplex 1
30/10 20:10 Cine Olido

O Homem de Londres

Belo, grave e úmido

Em P&B, O Homem de Londres é antes de tudo um arranjo de cenas esteticamente lindíssimas


GAIA GONÇALVES
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


Indicado na categoria Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, O Homem de Londres é levado numa cadência um tanto mais lenta à que a maioria dos espectadores está habituada. Assim, se nos primeiros minutos impressionam a fotografia e o clima sinistro da partitura musical, nos seguintes já nos distraímos com o ranger de poltronas e algumas tímidas desistências no cinema. Depois os diálogos são introduzidos e, devagar e delicadamente, revelam a trama.

Maloin (Miroslav Krobot) é funcionário do porto e da estação ferroviária. Ele mora numa casa simples, com a mulher – interpretada por Tilda Swinton (As Crônicas de Nárnia), toscamente dublada em húngaro – e a filha, que trabalha para ajudar na pouca renda da família. Já no início do filme, vestimos os olhos do funcionário para acompanhar uma estranha movimentação no cais: dois homens transportam uma maleta, depois brigam por ela, um deles morre no mar e o outro foge. Maloin decide recolher a maleta da água e descobre que está recheada de libras. Por meio de um inspetor que aparece na pequena cidade atrás do dinheiro, compreendemos aos poucos que o esquema se originou em um roubo. Paralelamente, observamos a vida de Maloin mudar quando ele resolve tomar atitudes e realizar desejos que a dificuldade financeira não permitia. Mas durante todo o tempo uma culpa silenciosa o acompanha.

A história é muito mais contada nos diálogos do que explicitada em imagens. Assim, se por um lado o filme provoca a imaginação, por outro exige atenção para que se aproveite a incrível sutileza das expressões dos personagens e também dos jogos de luz e sombra. Uma cena muito longa, por exemplo, mostra o rosto da mulher de um dos ladrões chorando sem que para isso mexesse um único músculo.

Aos possíveis desertores fica o aviso: vale a pena resistir até o fim do enredo complicado e da forma narrativa que tanto se difere da nossa cultura, e deixar o cinema se sentindo encharcado pelo mar húngaro de O Homem de Londres.

O HOMEM DE LONDRES
(A Londoni Férfi, Hungria/França/Alemanha)
Direção: Bela Tarr
Perspectiva | 2007 | 135 min

20/10 | 15:10 – Cine Bombril 1
21/10 | 21:00 – HSBC Belas Artes 2
27/10 | 18:00 – Memorial da América Latina

23 de out. de 2007

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

Falta de ar

Perturbador, 4 Meses... compartilha com o público a angústia de sua protagonista


LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Num quarto de hotel, Otilia, Gabita e Sr. Bebe olham-se nos olhos. Elas não conheciam o Sr. Bebe (Vlad Ivanov), contratado para dar fim à gravidez de Gabita (Laura Vasiliu), jovem estudante que divide seu quarto em uma república com Otilia (Anamaria Marinca). Uma relação de confiança precisa ser estabelecida em minutos – a vida de Gabita está nas mãos de um senhor que está prestes a realizar um aborto, prática ilegal e duramente condenada na Romênia ainda socialista ao fim dos anos 80. Tudo isso em um quarto pequeno, com a porta fechada.

Até chegar a essa cena, o espectador já atravessou um bom trecho de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias. Mas o quarto de hotel e a conversa entre os três é a chave do filme. O diretor e roteirista Cristian Mungiu consegue criar durante o filme inteiro um clima perturbador, em que a claustrofobia representa a situação de um país fechado para balanço.

4 Meses... foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes nesse ano. Assim como seus antecessores, traz uma discussão política ao longo do filme. Porém, consegue contar uma ótima história sobre a angústia que não é mero pretexto para falar de comunismo. A decadência da ditadura de Nicolau Ceausescu não é retratada gratuitamente.

Cristian Mungiu, aliás, não é adepto das cenas gratuitas. Nada é desnecessário em 4 Meses..., um filme que acerta no tempo das cenas, que sabe fazer longos planos-seqüência sem ser pedante e que conta uma história com excepcional fluidez. Ou seja, um filme excelente.


4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS
(4 Luni, 3 Saptamani Si 2 Zile, França/Romênia)
Direção: Cristian Mungiu
Perspectiva | 2007 | 113 min

23/10 | 20:00 Frei Caneca Unibanco Arteplex 3
24/10 | 22:20 Cine Bombril 1
28/10 | 15:20 Espaço Unibanco 3

Viagem a Darjeeling

Os excêntricos Whitmans

Wes Anderson repete a fórmula da comédia familiar, mas sempre com uma boa dose de criatividade

PEDRO BELO
O FINO DA MOSTRA


Separados desde o funeral do pai, os irmãos Whitman se encontram na Índia para uma jornada espiritual de conciliação. O manda-chuva da viagem é o irmão mais velho Francis (Owen Wilson), que se sente o chefe da família, decidindo inclusive o que os irmãos mais novos vão comer. Peter e Jack (Adam Brody e Jason Schwartzman) são os mais novos, cada um com suas paranóias. Três personagens que exalam um humor tragicômico muito particular.

Enquanto Francis planeja um minucioso itinerário para que cheguem ao mosteiro onde mora sua também excêntrica mãe (Anjelica Huston), Peter e Jack escondem segredos de seu irmão mais velho. Peter será pai em breve, o que não lhe parece bom. Jack ainda está muito ligado a um relacionamento frustrado. Até mesmo Francis tem seus segredos. Confinados por horas na mesma cabine de trem, suas diferenças e angústias começam a vir à tona.

Com diálogos quase literários e uma trilha sonora genial, Viagem a Darjeeling é uma história séria e engraçada, tudo ao mesmo tempo. O diretor Wes Anderson utiliza muito bem as ausências de diálogos, contando com as ótimas expressões dos três atores protagonistas.

Por ser um como um roadmovie que trata ao mesmo tempo de uma questão familiar - onde a solução de uma adversidade da jornada depende exclusivamente da resolução de conflitos pessoais- o filme talvez lembre um pouco os indicados ao Oscar Pequena Miss Sunshine e Transamerica. De fato, até a fotografia dos três títulos é semelhante. Viagem a Darjeeling, entretanto, ganha por apresentar personagens ainda mais complexos e intrigantes, donos de uma excentricidade divertidíssima.

Para quem viu outros filmes de Anderson – se gostou ou não, pouco importa - vale a pena ver Viagem a Darjeeling pelo estilo próprio do diretor, que se supera, construindo um filme reflexivo de humor refinado.


VIAGEM A DARJEELING
(The Darjeeling Limited, EUA)
Direção: Wes Anderson
Perspectiva | 2007 | 91 min
[antecedido pelo curta Hotel Chevalier, de Wes Anderson. 13 min.]

23/10 | 19:00 iG Cine
25/10 | 16:50 Unibanco Arteplex 1
28/10 | 21:30 Cinemark Shopping Eldorado

As Crianças Perdidas de Buda

Um monge não tão zen

Apesar do argumento batido e da filmagem apática, As Crianças Perdidas de Buda se salva pela singularidade de seu protagonista

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


As Crianças Perdidas de Buda, documentário holandês que participa da competição da Mostra, deixa o espectador com uma sensação neutra sobre suas características cinematográficas, já que o que está em evidência é a mensagem, e não a forma. O diretor não inovou no tema, pois muitos já falaram sobre histórias envolvendo monges budistas empenhados em fazer o bem. Entretanto, o personagem escolhido pelo cineasta é um trunfo, já que ele é uma figura carismática e que foge aos padrões convencionais: um monge que ensina a seus noviços boxe tailandês não só como uma forma de estabelecer um encontro entre o corpo e a mente, e sim como pura maneira de se defender.

O monge, ao presenciar uma briga e ser chamado de “louco”, surpreende ao partir para cima do aldeão, imobilizá-lo e sentá-lo no chão para que ele aprenda a dialogar em vez de brigar. Com um sorriso amplo, ele prova que sabe ser severo e que não é o estereótipo do monge “zen”.

Entretanto, o filme peca ao não estabelecer um foco à história: é mencionado inúmeras vezes que as péssimas condições de vida dos povoados deve-se ao uso excessivo de drogas e à exploração dos traficantes. O público espera que essa situação seja explicada e pormenorizada pelo documentário, o que nunca acontece. Se esse fato é tão crucial e tão próximo ao protagonista, já que o monge é constantemente ameaçado por traficantes, é essencial que os fatos sejam mostrados ao espectador.

Algumas opções de filmagem são duvidosas: tentar ilustrar a calma e a plenitude do monge focalizando formigas e gotas de chuva não é uma escolha de muito bom gosto. Mesmo com vários problemas em relação à estética, o filme é capaz de passar sua mensagem com muita eficiência, chamando a atenção do público para a alegria que o monge traz às crianças que acolhe. As Crianças Perdidas de Buda, assim, cumpre, em parte, seu papel como obra documental, mesmo que careça em ousadia e recursos cinematográficos.

O filme ganhou vários prêmios, como documentário estrangeiro no American Film Institute Festival e o Crystal Film no Festival de Cinema da Holanda, mas não é inovador e interessante a ponto de justificar essas premiações, nem os aplausos que se seguiram à sua exibição no Espaço Unibanco 3, dia 19.

AS CRIANÇAS PERDIDAS DE BUDA
(Buddha's Lost Children, Holanda)
Direção: Mark Verkerk
Competição | 2006 | 96 min

19/10 | 13:30 Espaço Unibanco 3
21/10 | 12:30 Frei Caneca Unibanco Arteplex 3
31/10 | 20:50 Frei Caneca Unibanco Arteplex 1

22 de out. de 2007

A Última Hora

Você é mais esperto que um aluno da 5ª série?

A Última Hora é uma versão cinematográfica daquelas apresentações em Powerpoint que você recebe aos montes por e-mail

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Você está lendo seus e-mails quando aparece uma mensagem com o título "Pense Nisso". Ou então "Pobre Planeta". Além do seu nome, outros quinhentos estão na lista de destinatários da mensagem. Junto a ela, segue anexa uma apresentação em Powerpoint, dessas bem toscas, que combinam recortes fotográficos com frases de efeito. Geralmente, você demora uns três minutos para chegar até o último slide e voltar ao trabalho. Agora imagine que uma dessas apresentações durasse duas horas.

Leonardo DiCaprio, o principal discípulo do Nobel da Paz Al Gore, é quem produziu essa demorada apresentação de slides em que convida Stephen Hawking para dizer que "a Mãe Natureza está pedindo socorro" ou então chama Mikhail Gorbatchev para lembrar-nos que, "em um universo tão grande, o homem não pode pensar que é superior a todas as outras espécies". Cientistas, onguistas, jornalistas dos cadernos ambientais, todos eles passam duas horas repetindo tudo aquilo que você já ouviu nas aulas de ecologia da 3ª série.

Por combinar seqüências de fotografias padrão com monólogos de acadêmicos, que aparecem sempre num cenário de estúdio com fundo azul, A Última Hora não é cinema. Não é nem mesmo um programa de televisão - quem transmitiria duas horas ininterruptas de baboseira?

Nem mesmo as intervenções de DiCaprio durante o filme garantem um quê cinematográfico. Muito pelo contrário. Sempre que aparece, a câmera focaliza o ator (no caso, o apresentador do filme, se é que isso existe) e deixa o plano de fundo, que é geralmente uma bela paisagem natural, desfocado. Um recurso idêntico ao utilizado pelo programa Globo Ecologia nas inserções do ator (e apresentador de TV, isso sim existe) Cláudio Heinrich – a comparação é inevitável, até porque os dois atores são parecidos.

Embora tudo o que seja dito no filme seja o óbvio, e que se trocássemos os cientistas que prestam depoimentos por artistas engajados o resultado seria o mesmo, um equívoco gravíssimo merece ser ressaltado: não há espaço para os especialistas que discordam da visão apocalíptica de que estamos "na última hora", de que se não fizermos nada agora, terá sido tarde demais. Só se dá voz aos que seguem a trilha de Al Gore.

A Última Hora é um spam. Assim como as mensagens de e-mail indesejadas, que agora já vão direto para o lixo eletrônico, esse filme não deveria sequer ter sido selecionado para a Mostra. Sobretudo porque não é cinema.


A ÚLTIMA HORA
(The 11th Hour, EUA)
Direção: Nadia Conners e Leila Conners Petersen
Perspectiva | 2007 | 120 min

21/10 | 14:30 - HSBC Belas Artes 2
22/10 | 17:30 - Unibanco Arteplex 4
25/10 | 16:00 - Unibanco Arteplex 3

Quatro vezes Gael, o cara da Mostra

Ele recusa Hollywood. Alguns gostam de chamá-lo de Rodrigo Santoro argentino – muitas vezes, o Rodrigo Santoro que deu certo. As mulheres não têm dúvida: ele é um gato. Os homens também não: ele é baixinho. Gael García Bernal, ou só Gael, é o grande nome da Mostra desse ano. Quatro filmes apresentam seu nome nos créditos: O Passado, Déficit, Sonhando Acordado e Cochochi.

ENSAIO
MARIANA PASINI
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA






CRÍTICAS
O Passado, de Hector Babenco. [por Pedro Canário]
Déficit, de Gael García Bernal. [por Luiz Felipe Fustaino]

QUANDO VER GAEL
22/10 | 15:10 DÉFICIT. Cinesesc
24/10 | 22:10 O PASSADO. Cinesesc
25/10 | 18:50 COCHOCHI. Unibanco Arteplex 1
26/10 | 15:10 DÉFICIT. Cinemateca – sala BNDES
26/10 | 18:10 O PASSADO. Cine Bombril 1
28/10 | 16:30 COCHOCHI. HSBC Belas Artes 2
28/10 | 19:00 O PASSADO. Cinemark – Shopping Eldorado

[Gael é o produtor de Cochochi, mas não está no elenco do filme.]

Déficit

Gael no prejuízo

Bom ator, mas péssimo diretor. Feitas as contas, Gael García Bernal justifica o nome de seu primeiro filme

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Sempre que está em boas mãos, Gael não decepciona. Prova disso é que, embora não tenha uma carreira com tantos filmes assim, todos conhecem Gael, "o cara da Mostra" desse ano. Mas depois de trabalhar com alguns nomes importantes do cenário latino – Pedro Almodóvar (Má Educação), Alejandro González Iñarritu (Amores Perros e Babel), Alfonso Cuarón (E Sua Mãe Também...) e Walter Salles (Diários de Motocicleta) – Gael García Bernal resolveu se aventurar por trás das câmeras. Um fiasco.

A culpa não é da trama, idealizada por ele e outros colegas mexicanos – na estréia de Déficit aqui na Mostra, Gael disse que a idéia do filme surgiu de um “chiste”, uma piada.

Aproveitando-se da ausência dos pais, que estão em outro país devido a acusações de corrupção, Cristóbal (Gael García Bernal) e sua irmã Elisa (Camila Sodi) convidam seus amigos para uma festa na mansão de veraneio da família. Cristobal se encanta por uma jovem argentina, Dolores (Luz Cipriota), e sempre que sua namorada, Mafer (Ana Serradilla), o chama ao celular pedindo ajuda para encontrar o local da festa, ele passa as coordenadas erradas para evitar que ela chegue a tempo.

Além desse micro-conflito amoroso de Cristóbal, vários outros ilustram reflexões sobre a juventude contemporânea: o protagonista não consegue ser aprovado para um MBA em Harvard, não se conforma com o problema na descarga do banheiro, incomoda-se com a proximidade entre Dolores e Adán, o filho do jardineiro da casa.

Todos esses "transtornos pequeno-burgueses" de Cristóbal serão utilizados de maneira crítica em Déficit, que tenta, sempre que pode, deixar clara qual é a luta de classes dos novos tempos. O filme tem dois núcleos: os convidados da festa e os empregados da mansão. Enredo típico de filme politicamente corretíssimo, mas que acerta ao evitar a separação entre heróis e vilões.

Porém, se a intenção do filme é causar algum incômodo – reação claramente obtida no polêmico Tropa de Elite –, o objetivo vai por água abaixo. E o motivo é simples: o filme não tem diretor. Assim como o personagem de Gael tenta desorientar a namorada, que nunca consegue encontrar a mansão, tanto as atuações quanto o próprio roteiro sentem falta de alguém para guiá-los.

Déficit não é um filme cansativo, nem monótono, mas quando acaba, fica a sensação de que está faltando alguma coisa. Essa coisa tem nome: diretor.

DÉFICIT
(Déficit, México)
Direção: Gael García Bernal
Competição | 2007 | 79 min

19/10 | 21:00 Cine Bombril 1
20/10 | 19:30 FAAP
22/10 | 15:10 Cinesesc
26/10 | 15:10 Cinemateca – sala BNDES


Mais Gael. Além de O Passado e Déficit, dois filmes comentados em O Fino da Mostra, Gael García Bernal também protagonizou o filme Sonhando Acordado, de Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças), exibido no primeiro fim-de-semana da Mostra – talvez passe novamente na repescagem.

Além de ator e diretor, Gael aproveita sua superexposição na Mostra para trazer também seu lado produtor. Ele produziu Cochochi, a história de dois meninos indígenas do noroeste do México que se perdem ao comprar remédios a um parente – o filme é falado na língua da tribo local.

COCHOCHI. Direção: Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán
25/10 | 18:50 – Unibanco Arteplex 1
28/10 | 16:30 – HSBC Belas Artes 2