25 de out. de 2007

XXY

Você decide

Com protagonista hermafrodita, o argentino XXY busca entender como a vida é afetada pelas escolhas de cada um

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Cabe a Alex decidir tudo. Ao contrário de boa parte das crianças hermafroditas, que têm o pênis retirado ainda na infância, Alex (Inés Efron) recebeu dos pais o direito da escolha. Aos 15 anos, os pais acreditam ter chegado a hora da decisão para Alex.

Kraken e Suli (Ricardo Darín, sempre ele!, e Valeria Bertuccelli), os pais de Alex, vivem a incerteza da atitude que tomaram no nascimento da criança. Embora tenham cuidado dela como uma filha, também vivem com angústia esse momento que acreditam ser de escolha entre duas opções: continuar mulher ou assumir-se como homem. Mas e se o melhor mesmo não for decidir nada, deixar tudo como está?

Os dilemas de Alex e de seus pais são muito bem retratados em XXY, filme de estréia de Lucía Puenzo e que venceu o prêmio da Semana de Crítica em Cannes. Os diálogos, que acabam até forçando a barra por evitarem qualquer hipocrisia, são poucos e dão espaço a ótimos momentos de silêncio. Algumas cenas de intimidade sexual, próprias de um filme que se propõe a tratar de uma pessoa que convive com dois órgãos genitais, são brilhantes: a forma como Alex escova os dentes tem uma conotação sexual, a maneira como lida com uma amiga ainda mais nova que ela enquanto tomam banho juntas é ainda mais perturbadora.

Lucía Puenzo está sempre se referindo a decisões. Com o nascimento da criança hermafrodita, os pais decidiram se mudar da Argentina para um vilarejo no Uruguai e nunca sabem ao certo como essa mudança pôde ter influenciado no comportamento de Alex. Suli também toma uma complicada decisão ao convidar uma família de argentinos cujo pai é cirurgião plástico para um fim-de-semana em sua casa - uma decisão que irá fazer com que o filho desses argentinos também reveja sua sexualidade e se depare com decisões.

A maneira como XXY retrata o hermafroditismo, envolvendo o tema em questionamentos universais ao invés de aprisioná-lo a uma característica sexual restrita a poucas pessoas, transforma o filme em um momento de reflexão sobre as relações familiares e as intimidades sexuais de cada um. Em nenhum momento a diretora tenta explicar o que é ser hermafrodita, mas fica nítida uma busca pela compreensão de como a vida é afetada por escolhas. Lucía Puenzo tomou a decisão correta.


XXY
(XXY, Argentina/Espanha)
Direção: Lucía Puenzo
Competição | 2007 | 86 min

24/10 | 19:50 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
25/10 | 22:40 - Reserva Cultural Sala 1
31/10 | 23:20 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 4

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