24 de out. de 2007

O Homem de Londres

Belo, grave e úmido

Em P&B, O Homem de Londres é antes de tudo um arranjo de cenas esteticamente lindíssimas


GAIA GONÇALVES
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


Indicado na categoria Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, O Homem de Londres é levado numa cadência um tanto mais lenta à que a maioria dos espectadores está habituada. Assim, se nos primeiros minutos impressionam a fotografia e o clima sinistro da partitura musical, nos seguintes já nos distraímos com o ranger de poltronas e algumas tímidas desistências no cinema. Depois os diálogos são introduzidos e, devagar e delicadamente, revelam a trama.

Maloin (Miroslav Krobot) é funcionário do porto e da estação ferroviária. Ele mora numa casa simples, com a mulher – interpretada por Tilda Swinton (As Crônicas de Nárnia), toscamente dublada em húngaro – e a filha, que trabalha para ajudar na pouca renda da família. Já no início do filme, vestimos os olhos do funcionário para acompanhar uma estranha movimentação no cais: dois homens transportam uma maleta, depois brigam por ela, um deles morre no mar e o outro foge. Maloin decide recolher a maleta da água e descobre que está recheada de libras. Por meio de um inspetor que aparece na pequena cidade atrás do dinheiro, compreendemos aos poucos que o esquema se originou em um roubo. Paralelamente, observamos a vida de Maloin mudar quando ele resolve tomar atitudes e realizar desejos que a dificuldade financeira não permitia. Mas durante todo o tempo uma culpa silenciosa o acompanha.

A história é muito mais contada nos diálogos do que explicitada em imagens. Assim, se por um lado o filme provoca a imaginação, por outro exige atenção para que se aproveite a incrível sutileza das expressões dos personagens e também dos jogos de luz e sombra. Uma cena muito longa, por exemplo, mostra o rosto da mulher de um dos ladrões chorando sem que para isso mexesse um único músculo.

Aos possíveis desertores fica o aviso: vale a pena resistir até o fim do enredo complicado e da forma narrativa que tanto se difere da nossa cultura, e deixar o cinema se sentindo encharcado pelo mar húngaro de O Homem de Londres.

O HOMEM DE LONDRES
(A Londoni Férfi, Hungria/França/Alemanha)
Direção: Bela Tarr
Perspectiva | 2007 | 135 min

20/10 | 15:10 – Cine Bombril 1
21/10 | 21:00 – HSBC Belas Artes 2
27/10 | 18:00 – Memorial da América Latina

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