27 de out. de 2007

No Vale das Sombras

Paul Haggis e suas fórmulas pretensiosas

No Vale das Sombras é um filme com cara de Oscar cujos bons momentos são encobertos pela sombra de seu diretor

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


No Vale das Sombras narra a busca de Hank Deerfield por seu filho, Mike, que foi soldado na guerra do Iraque, mas desapareceu após retornar aos EUA. O filme tem uma ótima trama, que explora os aspectos psicológicos da guerra do Iraque. Para os pais, Mike era apenas um garoto patriota que ingressou no exército para levar a "democracia" até nações oprimidas, o mesmo argumento utilizado pelo governo americano para manter ocultos seus verdadeiros interesses. Entretanto, o filme revela aos poucos que Mike é uma pessoa muito diferente dessa imagem idealizada de "bom garoto", um homem estigmatizado pelo trauma da guerra e dono de uma consciência bastante deturpada.

O filme, em vez de apenas mostrar a situação dos soldados que voltam traumatizados do Iraque, acaba caindo no erro de tentar encontrar justificativas para tudo. Uma delas é a vontade de colocar a culpa no consumo de drogas, moralismo que a narrativa quase abraça, mas se recupera a tempo. Outro problema é tentar minimizar crimes de guerra sob a justificativa de que os soldados estavam "protegendo a pátria", o que não se sustenta de forma alguma e acaba enfraquecendo a trama. São inconsistências que o roteiro acaba corrigindo no decorrer do filme, mas a sensação ruim de moralismo acaba permanecendo.

A preocupação com a mensagem, os temas e as reflexões é latente, mas não submete as técnicas cinematográficas a uma desvalorização. A filmagem tem seus bons momentos, como o ritual matutino do pai de Mike, que arruma minuciosamente sua cama, suas roupas e seus sapatos. Ao mostrar esse ritual militar que permanece no protagonista mesmo 20 anos após sua aposentadoria, o filme diz que determinadas experiências nunca se vão. A guerra é uma delas.

Em sua obra anterior, Crash, Paul Haggis criou uma narrativa aparentemente complexa para falar do preconceito latente na sociedade norte-americana, em um filme feito sob medida para o Oscar com seu final edificante e moralista. Com No Vale das Sombras, não carregou tanto no sentimentalismo barato, mas ainda assim parece se preocupar apenas em criar filmes que a Academia americana, com seus decanos conservadores, pensará em premiar. A atuação de Tommy Lee Jones, apesar de boa, é feita sob medida para um Oscar de melhor ator.

No Vale das Sombras tem seus defeitos, mas é capaz de provocar diversas reflexões sobre a sociedade americana atual e a tendência patriótica de auto-ilusão que muitos utilizam para superar os traumas da guerra e relevar os crimes do governo. Mas é bom que Paul Haggis não se engane – sua fórmula "vou fazer um filme sobre traumas psicológicos na América para ganhar o Oscar" já está bastante desgastada e não vai suportar outras reprises.

NO VALE DAS SOMBRAS
(In the Valley of Elah, EUA)
Direção: Paul Haggis
Perspectiva | 2007 | 121 min

23/10 | 19:00 - Cinemark - Shopping Eldorado
24/10 | 21:20 - iG Cine
25/10 | 13:30 - Cinesesc

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