19 de out. de 2007

Crimes de Autor

Na medida

Em Crimes de Autor, Claude Lelouch prova ser possível fazer um ótimo suspense sem violência ou tiroteios. Basta ter sutileza.


PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA


Crimes de Autor, o novo filme do francês Claude Lelouch, é um suspense que tinha tudo para cair no senso comum: uma série de histórias paralelas que, em algum momento, se encontram e guardam entre si pequenos mistérios em comum que parecem muito óbvios para serem motivos de preocupação.

Com um clima meio Agatha Christie, meio film noir dos anos 40, Crimes de Autor não apresenta uma única história central que se desenvolva como principal. Uma mulher que acaba de ser abandonada pelo noivo num posto de gasolina, um homem que parece estar viajando sem destino pela estrada, uma famosa escritora de romances.

Abandonada pelo namorado, Huguette se apresenta como uma mulher frágil e temperamental a Pierre, homem que acabou de conhecer em um posto de gasolina. Sem o carro (e sem o futuro marido), conta com a ajuda do desconhecido em sua viagem sem rumo. Depois que ele se apresenta como ghost-writer de Judith Ralitzer, a famosa escritora, e logo desmente esse personagem, Huguette o chama para fingir para seus pais, que moram no interior, que ele é seu futuro marido. E como sub-histórias que permeiam esses pequenos acontecimentos, há um serial killer pedófilo à solta e Judith precisa escrever seu novo best-seller, quando se vê acusada de um assassinato.

Lelouch é imprevisível ao fazer a história do filme correr paralelamente com o que parece ser a história do novo romance de Judith. Mas também é bastante eficaz em não deixar transparecer o que é realidade e o que é ficção, deixando o espectador achando que está descobrindo cada vez mais a trama do filme, embora na verdade não haja trama nenhuma a ser descoberta. A impressão final é a de que todos estão escrevendo o roteiro do filme e filmando-o junto com o diretor.

Neste thriller policial praticamente sem a presença da polícia, o que prevalece é a manipulação das histórias para que o filme não se torne previsível, se utilizando de uma única e muito eficiente arma: a manipulação dos personagens e tramas, deixando o filme quase cruel, onde cada vez que se pensa estar descobrindo alguma coisa, descobre-se também que estava enganado desde o início.

CRIMES DE AUTOR
(Roman de Gare, França)
Direção: Claude Lelouch
Retrospectiva Claude Lelouch 2007 103 min

19/10 20:50 – Unibanco Arteplex 1
20/10 16:00 – Faap
29/10 19:20 – Cinemateca – Sala Petrobrás

Ghost-director. Depois de ver seus filmes sendo recebidos sem entusiasmo pelos críticos franceses, Lelouch assinou “Crimes de Autor” como Hervè Picard. O pseudônimo só deixou de ser usado depois que o filme foi selecionado para o último Festival de Cannes. Em “Crimes de Autor”, o ghost-writer reivindica a autoria do próximo livro de Judith Ralitzer por considerar que está escrevendo sua obra-prima.

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