21 de out. de 2007

Em Paris

Paris, eu me deprimo

Dois irmãos protagonizam Em Paris. Entre o sofredor e o romântico, o filme dá (infelizmente) mais espaço ao irmão amargurado

LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Depois de se separar de Anna, com que vivia no interior da França, Paul (Romain Duris, à direita na foto) volta para a casa do pai, onde também mora Jonathan (Louis Garrel, à esquerda), seu irmão mais novo. Enquanto Paul, depressivo, lembra a todo o tempo do suicídio da irmã e não para de pensar na ex-mulher, Jonathan se aventura em três rápidos affairs ao longo de um único dia. Mas entre o sofrimento de um e o divertimento de outro, sobressai o primeiro.

Christophe Honoré tem dificuldade em contar uma história de amor. Por carregar a tinta no drama de Paul, o diretor faz com que o humor infantil de Jonathan não seja acolhido pela platéia. Com isso, erra o foco: das duas tramas, que acontecem paralelamente durante a maior parte do filme, despreza aquela que poderia render um filme brilhante.

Ambos os personagens têm uma dose elevada de heroísmo no sangue. Quando algumas cenas começam a aproximar o espectador da intimidade de cada um dos irmãos, há sempre uma atitude sobrehumana e inverossímil de algum deles. Chega uma hora em que essas interferências heróicas esgotam a paciência de quem assiste ao filme.

Nouvelle Vague. Em Paris é uma homenagem aos diretores da Nouvelle Vague, sobretudo a Truffaut. A cena em que Jonathan e uma de suas "vítimas", a última delas, conversam após a transa é referência explícita ao filme Domicílio Conjugal, o quarto episódio com o personagem Antoine Doinel, alter-ego de Truffaut (ver fotos abaixo). Um detalhe: Domicílio Conjugal foi lançado em 1970, ano em que nasceu o diretor Christophe Honoré.


As referências à nova onda francesa são tantas que fazem com que o espectador familiarizado com esse período fique tentando adivinhar qual é o diretor homenageado em cada cena – em grande parte, isso acontece porque o filme tem a infeliz capacidade de dispersar quem assiste a ele.

Ainda bem que Honoré não herda de Godard seu engajamento político, mas sim a montagem e a armadilha de fazer com que um dos personagens converse com o espectador, olhando diretamente para a câmera – numa das cenas, o diretor faz uma provocação ao maoísmo anacrônico de Godard, quando a mãe de Paul diz a ele que "brincar de camponês não é fácil".

Para que servem tantas referências? Para nada. É mera homenagem.


EM PARIS
(Dans Paris, França/Portugal)
Direção: Christophe Honorè
Perspectiva | 2006 | 93 min

21/10 | 19:00 - Shopping Morumbi Cine TAM
27/10 | 21:00 - Cine Bombril Sala 1
30/10 | 18:50 - CineSesc

Canções de Amor. Em Canções de Amor (2007), que também será exibido na Mostra e que foi indicado à Palma de Ouro desse ano, Honoré parece consertar os equívocos de Em Paris: é um filme mais alegre – e são nos raros momentos de alegria que Em Paris vai bem. E também traz como protagonista o intérprete de Jonathan, Louis Garrel.

Nenhum comentário: