27 de out. de 2007

O Clube de Leitura de Jane Austen

Uma Jane Austen conservadora

O Clube de leitura... tem bons momentos, mas se equivoca ao transformar a obra de Jane Austen em moralismo convencional

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


O Clube de Leitura... tem como premissa a vida de várias mulheres que têm um ponto em comum: o amor pela obra literária de Jane Austen. A partir desta paixão, elas formam um clube de leitura para discutir as seis obras da escritora inglesa, agregando mais tarde três homens ao grupo – obviamente, interesses amorosos das protagonistas.

O filme, obviamente, foi feito para atrair todos os tipos de público, já que tem diversas situações engraçadas e é de fácil apelo. Entretanto, só quem leu toda a obra de Jane Austen será capaz de compreender os paralelos entre a vida dos personagens do filme e dos livros. Os diálogos do clube não explicam para o espectador quem são Marianne, Elinor, Emma, Mr.Knightley, Fanny Price, entre outros. Mesmo assim, a narrativa é capaz de prender a atenção de todos os espectadores, sem nunca ser cansativa.

Um dos grandes trunfos do filme é que ele provoca uma vontade enorme de ler todos os livros da escritora inglesa, o que acaba mantendo-o na memória das pessoas por mais tempo do que aconteceria se ele concentrasse apenas nos relacionamentos entre os personagens. Como a obra de Jane Austen é excepcional e não se esgota mesmo após releituras sucessivas, O Clube de Leitura... ganha relevância por discutir, mesmo que superficialmente, vários temas dos livros. Sem esse forte ponto de apoio, o filme não se sustentaria.

O filme, entretanto, acaba caindo no moralismo barato ao usar o nome de Jane Austen para justificar as escolhas mais conservadoras da trama. Todas as mulheres que têm problemas com seus casamentos no filme, em vez de terminá-los sem traumas e seguir com a vida, ficam eternamente no dilema volto ou não volto, fiz certo ou não... Quando Prudie está em dúvida se trai ou não o marido que não ama mais, aparece a frase "O que Jane faria?", como justificativa para a "integridade" da personagem ser mantida. Mas as situações não são, nem de longe, as mesmas. O divórcio, na época de Jane Austen, só existia caso a mulher fosse infiel. Ao defender que o casamento era a mais importante escolha da vida da mulher, portanto, a escritora não demonstrava conservadorismo, e sim um realismo que condizia com sua época. Mesmo assim ela jamais defendeu que as mulheres deveriam se acomodar e casar sem amor só por uma boa situação financeira. As mulheres contemporâneas não passam por essas privações. Transformar o pensamento de Austen em algo tão tradicional é tirar a obra de seu contexto para justificar o conservadorismo da trama de O Clube de Leitura...

Para os amantes da elegante ironia e da inteligência de Jane Austen, o filme é interessante e gostoso de assistir, embora não passe disso. Para os que não a conhecem, é uma boa oportunidade para se interessar pelos livros. Infelizmente, esse é o saldo final que o filme transmite, já que não se aprofunda nas questões dos livros de Austen, usando-os apenas como ponto de partida. Mas é inegável que O Clube de leitura... é um filme agradável e que merece, ao menos, uma pequena atenção. Que faltou a ironia mordaz de Austen no filme, isso é mais que inegável. Pena que o diretor não é nenhum Mr.Darcy...


O CLUBE DE LEITURA DE JANE AUSTEN
(The Jane Austen Book Club, EUA)
Direção: Robin Swicord
Perspectiva | 2007 | 107 min

21/10 | 20:20 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 1
22/10 | 18:50 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
24/10 | 13:30 - Cinesesc

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