19 de out. de 2007

A Ilha

Neve, neve, água, e mais um pouco de neve

PEDRO BELO
O FINO DA MOSTRA


A Ilha conta a história do misterioso e controvertido padre Anatoli, habitante de um monastério ortodoxo no norte da antiga União Soviética. Embora conhecido por seus "milagres", curas, exorcismos e previsões, o homem santo se considera um verdadeiro pecador, e dedica sua vida ao arrependimento e ao remorso por um grande pecado cometido na juventude.

Anatoli é um personagem interessante. Sua história começa na Segunda Guerra Mundial, na marinha soviética. Durante um confronto com soldados nazistas, o então jovem marinheiro entrega um companheiro em troca da própria vida, e, embora hesitante, o mata para poder continuar vivo. Depois de ter o barco destruído pelos alemães, Anatoli é recolhido semimorto pelos padres do monastério ortodoxo onde a história se passa.

Passados trinta anos, o velho padre em nada se parece com o marujo covarde. Passa o filme inteiro a fazer as duas únicas coisas que sabe: rezar e levantar carvão para alimentar a fornalha de sua humilde morada. Entretanto, encuca os demais padres do monastério com suas brincadeiras e piadas estranhas, e suas lições de fé, humildade e sabedoria.

O enredo daria uma história bacana, mas o cineasta russo Pavel Lounguine conduz a obra de maneira muito monótona. Não é preciso ser nenhum especialista para imaginar que o norte da Rússia é gelado, cinzento e calado. Mesmo assim, o retrato da paisagem estática (neve, água, cabanas, alguns barquinhos) é uma constante, acompanhada de uma trilha sonora inebriante, que faz dormir o mais grave dos insones. A preferência do diretor pelas cenas paradas e pela relativa ausência de diálogos objetivos, talvez seja um clichê. Ao mesmo tempo, não há outra maneira de retratar uma história religiosa que se passa num mosteiro nos confins da antiga Rússia socialista.

Para a surpresa do espectador, o filme tem um desfecho surpreendente, na medida do possível. Talvez a falta de objetividade faça esperar um final tão pouco empolgante quanto o resto do filme. É verdade, os conflitos de Anatoli são resolvidos e sua agonia pecadora é aliviada. A agonia do espectador na espera de uma conclusão antecipada, porém, persiste até o último dos 112 minutos da obra.

A ILHA
(Ostrov, Rússia)
Direção: Pavel Lounguine
Perspectiva | 2006 | 112 min

19/10 | 15:10 – Reserva Cultural 1
20/10 | 20:50 – iG Cine
21/10 | 15:40 – Cinemateca – sala Petrobrás

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