25 de out. de 2007

Um Jogo de Vida ou Morte

Um filme em três sets

O remake de Um Jogo de Vida ou Morte estabelece um novo padrão de qualidade para as obras que serão refilmadas

JULIO LAMAS
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


O diretor irlandês Kenneth Branagh - famoso por suas adaptações cinematográficas de obras da literatura clássica como Hamlet de Shakespeare e A Flauta Mágica, a ópera de Mozart - se arrisca com o moderno em seu mais recente trabalho. Trata-se de uma ousada refilmagem do cultuado Um Jogo de Vida ou Morte (Sleuth), vencedor do Tony de 1972.

Na trama, Milo Tindle (Jude Law), um jovem ator, encontra o bem-sucedido escritor de contos policiais Andrew Wyke (Michael Caine). O propósito de sua visita é convencê-lo a se divorciar oficialmente de Maggie, sua atual namorada. Sem floreios, o embate verbal e psicológico começa na porta da casa de Wyke, logo que este se vê em frente ao homem que roubou sua esposa. Enquanto conversam, os dois se estudam e atacam com ironias. Apesar do sarcasmo sádico, tipicamente inglês, a conversa possui um tom relativamente pacífico.

O escritor diz que dará o divórcio, no entanto, o dinheiro é a única razão que mantem Maggie incapaz de deixá-lo. Ele oferta para Wyke as jóias dela que se encontram no cofre de seu quarto, porém para que ele as leve é preciso que simule uma invasão. Trata-se de uma mentira para fazer Tindle cair no seu domínio e ficar vulnerável aos seus atos de crueldade e humilhação.

Os dois personagens concordam que estão num jogo de dominação e manipulação, assim estabelecem uma disputa em 3 "sets" para ver quem ficará com a mulher-troféu no final. No primeiro set, Tindle perde ao desmaiar de medo com um tiro de festim, mas volta para se vingar e ganha o segundo com seus talentos interpretativos. Já no terceiro e decisivo ato se desenrola uma disputa de elevada carga emocional entre os dois, atingindo um nível cinismo que pode ser fatal para ambos, mas que faz a platéia se divertir com as atuações inusitadas de ambos.

Inicialmente se enxerga nos dois personagens uma óbvia distinção. Um é jovem e inocente, e o outro velho e megalomaníaco. Porém, conforme os dois se confrontam e seus egos se chocam, as diferenças ficam pouco nítidas. Os interesses conflitantes acabam por torná-los iguais no caráter sádico e paranóico do jogo que se concretiza. A mulher passa a ser o de menos, e a competição é apenas pelo prazer da vingança.

É imperativo atentar para o campo de batalha, a casa de Wyke, que ajuda a construir as emoções da trama. A suntuosa mansão tem câmeras escondidas por todos os seus cômodos e saídas. Já a ostensiva decoração interior infere uma sensação intimidadora que dá identidade ao filme. A casa é um exemplo de modernidade e tudo nela é controlada por um único controle remoto que determina as condições da batalha a ser travada. O domínio sob o ambiente se torna essencial para vencer.

O criativo roteiro adaptado é assinado por Harold Pinter, vencedor do Nobel de Literatura em 2005, o que assegura alguma qualidade no texto interpretado por Jude Law e Michael Caine, que esteve também no premiado original de 1972 no papel de Tindle. Nessa primeira versão Laurence Olivier fazia o papel de Wyke.

Um Jogo de Vida ou Morte é um filme que combina a peculiaridade intelectual do roteiro com a arrojada de direção que Branagh aplica aos seus atores. Vale ressaltar que a trilha sonora é autoria do nomeado ao Oscar, Patrick Doyle, que por sua vez, assegura o constante clímax da obra. Enfim, é um ótimo entretenimento e possui todos os elementos que rendem as boas avaliações dos que assistem.


UM JOGO DE VIDA OU MORTE
(Sleuth, EUA)
Direção: Kenneth Branagh
Perspectiva | 2007 | 92 min

23/10 | 17:10 – Frei Caneca Unibanco Arteplex 2
27/10 | 23:40 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 4
28/10 | 22:20 – Cine Bombril 2

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