24 de out. de 2007

Drum

Nem a África do Sul escapa

Repleto de maneirismos do cinema de Hollywood, Drum só é um filme sul-africano na ficha de inscrição

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


Drum conta a história do jornalista Henry Nxumalo, que resolve denunciar em suas matérias a opressão e o extermínio a que estão sendo submetidos o povo negro na África do Sul do apartheid. O roteiro, apesar de batido, poderia funcionar, se não fosse baseado em emoções fáceis e estereótipos facilmente reconhecíveis. Não existem personagens, existem modelos já determinados: o jornalista “guerreiro”, que vive por uma causa, sua determinada mulher, o chefe de redação cínico mas que acaba entendendo a grandeza da causa, os amigos, etc. Nada, absolutamente nada, sai desses padrões há muito determinados no mundo dos rótulos.

Os clichês da trama são inumeráveis, além de irritantes: a trajetória do herói que luta por uma causa e serve de elemento catártico para comover o povo e levá-lo à conscientização, músicas melosas nas mortes de personagens, frases de efeito sem profundidade alguma, entre outros elementos tipicamente hollywoodianos – no que a indústria cinematográfica americana tem de pior.

A história do jornalista que tenta lutar contra as injustiças da sociedade através de denúncias e muita coragem já é, por natureza, um perigo em potencial, porque é uma imagem saturada que oferece poucos caminhos alternativos para o diretor. Considerando que o filme é uma cinebiografia, os problemas aumentam, por ser esse um gênero cinematográfico incerto; ou ele é irrelevante em relação ao personagem, ou eleva o biografado à categoria divina, ou – raramente – é capaz de alcançar um equilíbrio entre o personagem real e a esfera cinematográfica. Drum, entretanto, não é um filme que tenha esse equilíbrio, já que cai na armadilha da manipulação emocional para tentar captar a atenção do espectador.

Dizer em uma crítica que um filme é ruim porque é cheio de clichês tornou-se, ironicamente, um outro clichê, e de natureza perigosa. É preciso nomear os clichês, apontar suas idéias redutoras e pré-concebidas, na tentativa de restaurar uma visão multifacetada do mundo. O clichê extingue a diversidade, ou seja, fomenta o preconceito, e é irônico que um filme como Drum - cuja trama gira em torno do combate ao racismo - use técnicas tão conservadoras e contrárias ao ideal da diversidade. Um filme anti-preconceito que estereotipa o mundo que retrata.

Drum prometia mostrar um pouco do cinema sul-africano, suas peculiaridades, belezas e surpresas. Entretanto, o que se vê é um filme que repete todos os padrões da indústria hollywoodiana e poderia muito bem ser confundido com um filme americano.

DRUM
(Drum, África do Sul)
Direção: Zola Maseko
Seleção FESPACO 2004 104 min

19/10 15:20 Espaço Unibanco 3
24/10 14:40 Frei Caneca Unibanco Arteplex 1
30/10 20:10 Cine Olido

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