30 de out. de 2007

O Amor nos Tempos do Cólera

O amor está lá. Já a cólera...

Mesmo com muitas escolhas infelizes, o diretor se salva nos momentos cômicos de O Amor nos Tempos do Cólera

GABRIELA MAYER
ESPECIAL PARA O FINO DA MOSTRA


A cólera chegou de navio às Américas na década de 1830. Depois de matar milhares de pessoas na Europa, foi trazida também aos latino-americanos, espalhando a epidemia que provocava, entre outros sintomas, desidratação, vômitos e taquicardia.

Na Colômbia da segunda metade do século XIX, Florentino Ariza (Unax Ugalde/Javier Bardem) apresentava esses mesmos indícios, apesar de não ter passado perto da doença. O mal dele era outro: apaixonado por Fermina Daza, ele passou a vida vivendo em função do amor que sentia por ela e do qual ele nunca desiste, apesar de saber de seu casamento com outro homem, o médico Juvenal Urbino.

Em O Amor nos Tempos do Cólera, o diretor Mike Newell se esqueceu da primeira parte. A metáfora entre amor e cólera ficou perdida. O enfoque na doença, fundamental para que fosse possível compreender a comparação, foi superficial. Assim como no livro homônimo de Gabriel García Márquez, a metáfora tem que ser explicada verbalmente. Com a diferença que Newell tinha o recurso da imagem para esclarecê-la e o escritor, não.

A preocupação do diretor em ser fiel ao livro foi tanta que, além de ter ficado longo (são 138 minutos), o trabalho de Newell ficou preso aos recursos da literatura e alheio às saídas que o cinema oferece para adaptar.

Apesar de tanta fidelidade, o diretor optou por colocar seus atores, a maior parte de origem latina, para falar inglês. A grande perda dessa escolha foi nas atuações. Os atores pareceram limitados pela necessidade de falar inglês. Não que as atuações tenham sido ruins, pelo contrário. Mas pareciam ter ainda mais a oferecer. Inclusive Fernanda Montenegro, que interpreta a mãe de Florentino Ariza, dava a impressão de ter algo mais para mostrar.

Por outro lado, algumas vezes são esses mesmos atores que fazem o filme dar certo. Fermina Daza, interpretada por Giovanna Mezzogiorno, dá vida à personagem. Nos cinqüenta anos da história que são retratados, ela envelhece mais por suas expressões do que pela maquiagem.

Mesmo com uma direção problemática, o filme não fica apenas no prejuízo. Algumas perdas são compensadas pelas cenas cômicas, de um humor que até parece sem intenção, mas ainda assim incapaz de diminuir o exagero no rumo dramático da história.

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA
(Love in the Time of Cholera, EUA)
Direção: Mike Newell
Perspectiva 2007 138 min

25/10 16:50 - Cinemateca (sala BNDES)
26/10 21:30 - Cinemark Shopping Eldorado
30/10 20:10 - Frei Caneca Unibanco Arteplex 1

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