19 de out. de 2007

Sympathy for the Devil

Jean-Luc Godard não assume a paternidade de Sympathy for the Devil, cuja montagem foi feita pelos produtores à sua revelia. Por isso, fez One + One, em que não teve vergonha de dizer que é o pai. Ambos são filmes-manifesto feitos em 1968, misturando imagens da gravação da canção dos Rolling Stones com esquetes de teor político, em que se discute o comunismo, o movimento negro, o maoísmo e a necessidade de por fim à intelectualidade.

MINICRÍTICAS

Godard faz um filme chato, em que é preciso muita disciplina para não utilizar a saída de emergência antes dos créditos finais. É quase um treino: quem chega até o fim é daqueles que não entrega nenhum colega nem sob a pior das torturas. Sympathy... é uma tortura ideológica: troca os diálogos pelo discurso político, abusa de didatismo e repetição. Para te convencer de que o comunismo-marxismo-maoísmo é o melhor remédio, Godard constrói a mesma idéia em quase dez esquetes “diferentes”, intercaladas às gravações dos Rolling Stones. Torça para não implicar com a música também...
(Luiz Felipe Fustaino)


A idéia de reunir em um filme vários conceitos políticos e estéticos, intercalados pelo música simbólica dos Rolling Stones, é excelente, e Godard sabia disso. A maneira como o diretor conduz o filme, com cortes súbitos que parecem indicar preciosismo e frases feitas que beiram o pedantismo e o clichê, provam que Godard tinha um alto conceito não só da idéia central do filme como de suas habilidades cinematográficas. Infelizmente, nada disso salva Sympathy for the Devil, que causa tédio até mesmo ao cinéfilo mais empenhado e soa falso ao atribuir uma importância suprema às idéias políticas de Godard. A montagem, ao tentar transformar planos totalmente díspares em uma unidade cinematográfica, consegue desvalorizar até mesmo o ritmo contagiante da música dos Rolling Stones. Criador de obras instigantes como Acossado, Je vous salue Marie e Alphaville, Godard prova que também sabe entediar.
(Stefanie Gaspar)


Mesmo não sendo uma montagem assinada e muito menos assumida por Jean-Luc Godard, Sympathy for the Devil é um filme para fãs... do diretor. Ele tenta ser interessante e quase chama a atenção do espectador com as cenas com cara de extra de DVD das gravações do clássico dos Rolling Stones. Porém, quando começa a surgir interesse por parte da audiência, há cortes desconexos para cenas com menos sentido ainda.

Falar que a música dos Stones salva o filme, mesmo para um fã incondicional da banda, é mais do que exagerar a capacidade de composição da dupla Jagger/Richards. É um filme que dá a impressão de ter sido feito apenas para catequizar quem o vê com seus discursos político-ideológicos e para treinar técnicas de edição e montagem. É um filme pra quem tem paciência de acompanhar sessões de gravação e de ouvir discursos de palanque.
(Pedro Canário)

Nem os Rolling Stones, nem Mick Jagger, nem um irreconhecível e jovem Keith Richards salvam Godard. Nem mesmo a mistura do rock com o batuque brasileiro (Jagger e Richards teriam vindo à Bahia no ano anterior) salva Sympathy for the Devil, uma tentativa de um filme revolucionário para explicar o ano de 1968 na ótica do cineasta francês. O filme acaba por abusar das alegorias e metáforas extenuantes e faz da canção dos Stones um pano de fundo mal colocado. O discurso político apresentado é extremamente confuso e desconexo, e tortura o espectador entre as tomadas de estúdio da banda inglesa.
(Pedro Belo)


ROLLING STONES, SYMPATHY FOR THE DEVIL
(Sympathy for the Devil, Inglaterra)
Direção: Jean-Luc Godard
Perspectiva | 1968 | 100 min

19/10 | 21:00 - iG Cine
20/10 | 21:20 - Reserva Cultural 1
28/10 | 13:30 - Bombril 1


ONE + ONE
(One + One, Inglaterra)
Direção: Jean-Luc Godard
Perspectiva | 1968 | 96 min

26/10 | 23:00 - iG Cine
31/10 | 22:00 - Unibanco Arteplex 3
01/11 | 14:00 - iG Cine

Um comentário:

Anônimo disse...

Primeiro, Parabéns pelo blog.
Segundo, discordo frontalmente da crítica. Fui ver Rolling Stones, Sympathy for the devil - na última mostra (2007). A sala do Cine Bombril estava cheia. Todos ficaram até o fim e ainda houve uns 2 minutos de aplauso.
Godard consegue "misturar" os vários discursos ideólogicos, dessa maneira, brinca com a política e ao mesmo tempo faz sua crítica sem ser panfletário.
A cena da moça respondendo "yes" ou "não" no parque é algo genial.