23 de out. de 2007

As Crianças Perdidas de Buda

Um monge não tão zen

Apesar do argumento batido e da filmagem apática, As Crianças Perdidas de Buda se salva pela singularidade de seu protagonista

STEFANIE GASPAR
O FINO DA MOSTRA


As Crianças Perdidas de Buda, documentário holandês que participa da competição da Mostra, deixa o espectador com uma sensação neutra sobre suas características cinematográficas, já que o que está em evidência é a mensagem, e não a forma. O diretor não inovou no tema, pois muitos já falaram sobre histórias envolvendo monges budistas empenhados em fazer o bem. Entretanto, o personagem escolhido pelo cineasta é um trunfo, já que ele é uma figura carismática e que foge aos padrões convencionais: um monge que ensina a seus noviços boxe tailandês não só como uma forma de estabelecer um encontro entre o corpo e a mente, e sim como pura maneira de se defender.

O monge, ao presenciar uma briga e ser chamado de “louco”, surpreende ao partir para cima do aldeão, imobilizá-lo e sentá-lo no chão para que ele aprenda a dialogar em vez de brigar. Com um sorriso amplo, ele prova que sabe ser severo e que não é o estereótipo do monge “zen”.

Entretanto, o filme peca ao não estabelecer um foco à história: é mencionado inúmeras vezes que as péssimas condições de vida dos povoados deve-se ao uso excessivo de drogas e à exploração dos traficantes. O público espera que essa situação seja explicada e pormenorizada pelo documentário, o que nunca acontece. Se esse fato é tão crucial e tão próximo ao protagonista, já que o monge é constantemente ameaçado por traficantes, é essencial que os fatos sejam mostrados ao espectador.

Algumas opções de filmagem são duvidosas: tentar ilustrar a calma e a plenitude do monge focalizando formigas e gotas de chuva não é uma escolha de muito bom gosto. Mesmo com vários problemas em relação à estética, o filme é capaz de passar sua mensagem com muita eficiência, chamando a atenção do público para a alegria que o monge traz às crianças que acolhe. As Crianças Perdidas de Buda, assim, cumpre, em parte, seu papel como obra documental, mesmo que careça em ousadia e recursos cinematográficos.

O filme ganhou vários prêmios, como documentário estrangeiro no American Film Institute Festival e o Crystal Film no Festival de Cinema da Holanda, mas não é inovador e interessante a ponto de justificar essas premiações, nem os aplausos que se seguiram à sua exibição no Espaço Unibanco 3, dia 19.

AS CRIANÇAS PERDIDAS DE BUDA
(Buddha's Lost Children, Holanda)
Direção: Mark Verkerk
Competição | 2006 | 96 min

19/10 | 13:30 Espaço Unibanco 3
21/10 | 12:30 Frei Caneca Unibanco Arteplex 3
31/10 | 20:50 Frei Caneca Unibanco Arteplex 1

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