19 de out. de 2007

Control

O rock star não se humilha

Control não submete Ian Curtis ao calvário enfrentado por outros artistas em recentes cinebiografias


LUIZ FELIPE FUSTAINO
O FINO DA MOSTRA


Quando começa Control, Ian Curtis ainda não é o líder do Joy Division. Na pequena cidade inglesa de Macclesfield, Ian Curtis (Sam Riley) é um jovem que não consegue prestar atenção nas aulas de química, mas tem sensibilidade para escrever os poemas que farão com que Debbie (Samantha Morton), a namorada de seu melhor amigo, se apaixone por ele.

Enquanto é um garoto pacato e apaixonado no interior da Inglaterra, Curtis não traz nenhum desafio ao filme, nem ao espectador. É apenas quando ele aceita assumir os vocais de uma das principais bandas do pós-punk no fim dos anos 70 que Control diz a que veio. Vida de rock star, afastamento da família que constituiu com Debbie ainda muito jovem, envolvimento com drogas e groupies. Tudo isso vira rotina na vida de Ian Curtis, que apesar do êxito como músico, enfrenta um grande problema: a depressão. Mas como contar essa história, em que uma promessa musical tem sua vida comprometida, sem martirizar um ícone pop, como acontece com outros astros?

Ao contrário da maioria das cinebiografias lançadas recentemente, que definharam seus personagens até as últimas conseqüências, Control não submete seu retratado a um calvário, mesmo que o clima dramático seja progressivamente carregado ao longo do filme. Em seu primeiro longa-metragem, Anton Corbijn não o expõe ao ridículo de fazer com que tenhamos dó de todo o sofrimento que fez com que, aos 23 anos, Ian Curtis cometesse suicídio.

Missão cumprida. Control consegue conduzir o espectador em uma homenagem sincera a Ian Curtis. O jovem ator Sam Riley, que constrói um personagem cuja sobriedade é fascinante, transparece os conflitos de Curtis com sua epilepsia sem tentar cativar o público com sessões carregadas de choro e lamento.

Mas o filme desanda em outro conflito de Curtis: o amoroso. Se Control tem a proeza de escapar do clichê mais óbvio das cinebiografias, que é a desfiguração e a humilhação progressiva do personagem diante da platéia, infelizmente se aproxima dos melodramas televisivos ao situar Ian Curtis entre dois amores tão opostos: uma esposa suburbana, típica dona-de-casa, e uma groupie belga moderníssima que parece tratar seu amante como um melhor amigo.

A vida amorosa do líder do Joy Division é fundamental não só para compreender a vida e seu desfecho trágico, mas também as músicas que compôs. Mas acentuá-la da metade do filme em diante, ainda mais com a formação de um triângulo amoroso com base na fábula da mocinha da cidade e da mocinha do campo, fragiliza os verdadeiros êxitos do filme, é um tiro no pé para quem que tinha tudo para iniciar uma nova linha de biografias no cinema: a dos filmes sinceros e nem um pouco apelativos.


CONTROL
(Control, Inglaterra/EUA)
Direção: Anton Corbijn
Competição | 2007 | 121 min

19/10 | 18:40 – iG Cine
20/10 | 22:40 – Unibanco Arteplex 1
21/10 | 22:00 – Espaço Unibanco 3
24/10 | 20:40 – Cine TAM

[Leia também a crítica de Tainá Tonolli, d'O Fino da Mostra, no site de Cultura Geral da Faculdade Cásper Líbero >>]

Amigos. Corbijn e Curtis se conheceram de fato. Assim que se mudou da Holanda para a Inglaterra, o primeiro trabalho do então fotógrafo Anton Corbijn foi um ensaio do Joy Division. Quase trinta anos depois, sua estréia na direção de cinema trouxe novamente ao primeiro-plano o compositor do clássico Love Will Tear Us Apart.

Nenhum comentário: