O passado bate à porta
Hector Babenco deixa de lado as questões sociais e parte para o campo da subjetividade
PEDRO CANÁRIO
O FINO DA MOSTRA
O Passado, de Hector Babenco, conta a história de Rimini (Gael García Bernal), um jovem tradutor que termina seu casamento de 12 anos com Sofia (Analía Couceyro), namorada dos tempos de escola. A partir daí, ele tenta recomeçar a vida por diversas vezes, mas sua ex-mulher parece se recusar a aceitar o fim de um relacionamento que tinha tudo para ser eterno.
A presença constante de Sofia causa uma série de tragédias na vida de Rimini, mas é quando ele conhece a modelo Vera, com quem começa a ter um caso, que a história ganha o tom que será mantido até o fim. É o momento em que ele acredita finalmente ter se desvencilhado de Sofia, em que assume o uso de cocaína para trabalhar e em que seus problemas de memória começam a se manifestar.
Esse é o aspecto que mais chama a atenção no filme de Babenco, baseado no livro homônimo do argentino Alan Pauls. O filme não está centrado nos relacionamentos de Rimini, ou na fragilidade deles, como pode parecer, mas sim na forma como o passado influencia diretamente o presente, e de inúmeras formas. O maior trunfo do filme é mostrar os efeitos do passado num personagem que tem problemas de memória.
Mostrar como experiências antigas voltam à tona a todo momento seria uma solução fácil, previsível. O Passado prefere abordar os relacionamentos e a passagem do tempo de forma bastante peculiar e, aproveitando-se da escuridão que permeia todo o filme, Babenco mostra como o passado bate à porta de todos. Até mesmo de pessoas como Rimini, que parecem imunes à memória.
É impossível fugir do passado. Assim que o tempo permite, ele volta, como um bloco de memória que aparece de maneira completamente independente da vontade. Ou, como resume a frase final do filme Está tudo iluminado de Liev Schreiber, “Tudo está iluminado com a luz do passado”. No caso de O Passado, tudo está um tanto quanto obscuro.
O PASSADO
(El Pasado, Brasil/Argentina)
Direção: Hector Babenco
Filme de Abertura | 2007 | 114 min
18/10 | 21:00 (para convidados) – Auditório Ibirapuera
24/10 | 22:10 – Cinesesc
26/10 | 18:10 – Cine Bombril 1
28/10 | 19:00 – Cinemark Eldorado
3 comentários:
Dá pra notar que o Babenco tem uma quedinha por histórias em que os personagen são meio divididos, vide Pixote ou Lúcio Flávio.
Mas eu acho mesmo que a troca do Santoro (Estação Carandiru) pelo García Bernal foi mais do que bem-vinda, né?
PS: é sempre ler algo sobre cinema que não tenha nada a ver com Tropa de Elite. Assim, só pra variar.
ERRATA
Eu quis dizer que é sempre legal, ok?
Boa Sorte aí com blog, colegas!
Adoro quando a Sofía diz pro Rímini que a única coisa que ele não pode fazer é esquecê-la.
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